BUDAPESTE/MOSCOU (Reuters) - O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, reuniu-se com o presidente russo, Vladimir Putin, nesta sexta-feira, para discutir a paz na Ucrânia, provocando advertências de outros líderes da União Europeia contra e conciliação e a insistência de que ele não falava em nome da UE.
A Hungria assumiu a presidência rotativa de seis meses do bloco na segunda-feira. Cinco dias depois, Orbán visitou o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy em Kiev e formou a aliança "Patriotas pela Europa" com outros nacionalistas de direita.
Agora, ele optou por ir a Moscou em uma "missão de paz", dias antes de uma cúpula da Otan que tratará de mais ajuda militar para a Ucrânia contra o que a aliança de defesa ocidental chama de "guerra de agressão não provocada" da Rússia.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que somente a unidade e a determinação dentro da UE, de 27 nações, abririam o caminho para uma paz justa e duradoura na Ucrânia.
"A conciliação não deterá Putin", afirmou ela no X.
Putin, que recebeu Orbán no Kremlin, disse a ele que estava pronto para discutir as "nuances" das propostas de paz para acabar com a guerra de dois anos e meio.
Putin afirmou no mês passado que a Rússia encerraria a guerra na Ucrânia, que Moscou chama de operação militar especial, somente se Kiev concordasse em abandonar suas ambições na Otan e entregar a totalidade de quatro províncias reivindicadas por Moscou - exigências que Kiev rejeitou rapidamente como equivalentes à rendição.
Um diplomata da UE disse que, com a decisão de Orbán de se encontrar com Putin em Moscou, a presidência húngara da UE - que durará até 31 de dezembro - terminou antes de realmente começar.
"Infelizmente, o ceticismo dos Estados membros da UE foi justificado - tudo se resume a promover os interesses de Budapeste", declarou o diplomata, pedindo anonimato devido a sensibilidades políticas.
O presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, acusou Orbán de prejudicar a presidência da UE. "Se você realmente busca a paz, você não aperta a mão de um ditador sanguinário, você coloca todos os seus esforços para apoiar a Ucrânia", escreveu ele no X.
O chefe da política externa da UE, Josep Borrell, disse que Orbán em Moscou "não estava representando a UE de nenhuma forma" e o primeiro-ministro finlandês, Petteri Orpo, afirmou que a visita prejudicou os interesses da UE.
Pavel Havlicek, pesquisador da Association for International Affairs, disse que a visita de Orbán foi um abuso de um vácuo de poder em Bruxelas e um perigoso enfraquecimento da posição europeia comum.
Orbán, um crítico da ajuda militar ocidental à Ucrânia que tem as relações mais calorosas de qualquer líder da UE com Putin, disse que reconhecia que não tinha mandato da UE para a viagem, mas que a paz não poderia ser feita "de uma poltrona confortável em Bruxelas".
"Não podemos nos sentar e esperar que a guerra acabe milagrosamente", escreveu ele no X.
(Reportagem de Philip Blenkinsop e Andrew Osborn)