Por Nandita Bose e David Lawder
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente chinês, Xi Jinping, mantiveram sua primeira conversa direta, nesta terça-feira, desde que se encontraram em novembro, com Biden buscando evitar que as tensões aumentem antes da posse presidencial de Taiwan em maio.
Biden usou a ligação para enfatizar "a importância de manter a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan e a liberdade de navegação no Mar do Sul da China", disse a Casa Branca em um comunicado.
Xi afirmou que os laços entre a China e os EUA estão começando a se estabilizar, mas alertou que eles poderiam “cair em conflito ou confronto”, segundo a agência de notícias Xinhua.
Xi advertiu Biden que os EUA “não estão diminuindo os riscos, mas criando riscos” ao suprimir o comércio e o desenvolvimento tecnológico da China e adicionar novas entidades à lista de sanções.
O governo Biden impôs proibições à venda de determinadas tecnologias a empresas chinesas, citando riscos à segurança nacional. A China acusou Washington de usar as questões econômicas e comerciais como arma.
Na ligação de terça-feira, Biden disse que os EUA "continuarão a tomar as medidas necessárias para evitar que tecnologias avançadas dos EUA sejam usadas para minar nossa segurança nacional, sem limitar indevidamente o comércio e o investimento", disse a Casa Branca, acrescentando que a ligação durou uma hora e 45 minutos.
Biden e Xi concordaram em novembro em reabrir as comunicações militares e cooperar para conter a produção de fentanil. Eles não se falavam por telefone desde julho de 2022. Após a reunião de novembro, Biden disse aos repórteres que não havia mudado sua opinião de que Xi é um ditador, um comentário que irritou a China.
A China considera Taiwan, uma ilha autogovernada com eleições democráticas, como parte de seu território e recentemente retirou de seu orçamento a linguagem sobre uma "reunificação pacífica". Taiwan se opõe veementemente às reivindicações de soberania da China e afirma que somente o povo da ilha pode decidir seu futuro.
O atual vice-presidente de Taiwan, Lai Ching-te, que Pequim considera um separatista, ganhou a presidência em janeiro e Pequim aumentou a pressão sobre Taiwan antes da posse em maio.
Biden e Xi também discutiram preocupações sobre o apoio da China à guerra da Rússia contra a Ucrânia, suas práticas de comércio econômico, abusos de direitos humanos em Xinjiang e a desnuclearização da península coreana, disse a Casa Branca.
O presidente dos EUA também alertou Pequim sobre a escalada de confrontos no Mar do Sul da China, que a China reivindica quase que totalmente, em conflito com a lei internacional.
Um autoridade de alto escalão do governo havia dito anteriormente que Biden expressaria preocupação com "as ações desestabilizadoras da China no Mar do Sul da China, incluindo a perigosa ação recente da Guarda Costeira da RPC contra as operações marítimas filipinas de rotina".
RELAÇÕES EM RECUPERAÇÃO
Biden e Xi deram continuidade às conversas buscando suavizar um período difícil nas relações que pioraram depois que um suposto balão de vigilância chinês transitou pelos Estados Unidos e foi abatido por um caça norte-americano no ano passado.
As relações mostraram sinais de melhora nos últimos meses, já que os dois lados tomaram medidas para restabelecer os canais de comunicação depois que os laços entre as duas superpotências globais atingiram seu nível mais baixo em décadas.
"Os dois líderes saudaram os esforços contínuos para manter canais de comunicação abertos e administrar responsavelmente o relacionamento por meio de diplomacia de alto nível e consultas em nível de trabalho nas próximas semanas e meses", informou a Casa Branca.
Biden e Xi também conversaram sobre maneiras de gerenciar a concorrência e evitar conflitos.
"A concorrência intensa exige uma diplomacia intensa para gerenciar as tensões, lidar com percepções errôneas e evitar conflitos não intencionais. E esse telefonema é uma maneira de fazer isso", afirmou autoridade sênior do governo dos EUA.
Os dois líderes também discutiram várias áreas em que os interesses dos EUA e da China se alinham, incluindo esforços de combate ao narcotráfico, questões de risco e segurança relacionadas à inteligência artificial, retomada das comunicações entre militares e esforços para combater as mudanças climáticas.
(Reportagem de Nandita Bose e David Lawder em Washington, reportagem adicional de Steve Holland)