Por Babak Dehghanpisheh
BEIRUTE (Reuters) - O caso analisado pelo Judiciário do Irã era simples: na província de Fars, no sul do país, Fatemeh Salbehi sufocou o marido depois de drogá-lo, um crime que na República Islâmica acarreta pena capital.
O que tornou o caso polêmico é que Fatemeh só tinha 17 anos, o que fazia dela uma menor de idade segundo padrões legais internacionais, quando cometeu o suposto crime. Sua suposta confissão também surgiu durante uma série de interrogatórios nos quais não havia um advogado presente.
O caso foi julgado novamente, mas Fatemeh foi enforcada na prisão de Adel Abad, na cidade de Shiraz, em outubro passado.
O assunto passou a atrair atenção em função de um relatório contundente da Organização das Nações Unidas (ONU) a respeito dos direitos humanos no Irã no mês passado que enfatizou o que chamou de uma taxa "alarmantemente alta" de execuções na nação persa, inclusive de adolescentes.
O relatório da ONU, assim como o que a Anistia Internacional divulgou em janeiro, desencadeou comentários de iranianos comuns nas redes sociais, e pelo menos parte deles criticava o presidente iraniano, Hassan Rouhani, por não fazer mais para deter as execuções de jovens.
O Irã tem o maior índice de execuções de jovens no mundo, apesar de ser signatário da Convenção sobre os Direitos da Criança, um tratado internacional de direitos humanos que proíbe a pena capital para qualquer pessoa de menos de 18 anos.
Somente uma semana antes da execução de Fatemeh, outro criminoso adolescente foi executado.
"O fato de que houve duas execuções em menos de duas semanas só mostra o quão indiferentes e desdenhosas são as autoridades iranianas no tocante às suas obrigações", disse Raha Bahreini, pesquisadora iraniana da Anistia Internacional.
Na última década, o Irã executou pelo menos 73 criminosos adolescentes, de acordo com o relatório de janeiro da Anistia.
As execuções de jovens continuaram apesar das promessas de campanha de reforma dos direitos humanos feitas por Rouhani em 2013. Desde que assumiu o cargo, Rouhani tem se concentrado na política externa, como o acordo nuclear assinado com potências mundiais em julho passado, e temas domésticos, como as execuções de jovens, vêm sendo amplamente ignorados, dizem observadores.