Por Simon Lewis
GENEBRA (Reuters) - Os principais diplomatas de Rússia e Estados Unidos minimizaram a perspectiva de resolver rapidamente as suas diferenças em relação à Ucrânia em discussões que começaram na Suíça na sexta-feira, mas o lado norte-americano ainda acreditava que a reunião possa diminuir as crescentes tensões.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, apertou a mão do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, no hotel Presidente Wilson, onde a reunião está sendo realizada, antes de se sentarem para conversar.
Lavrov disse a Blinken que não esperava um grande avanço nas conversas de Genebra.
"(Nossas) propostas são extremamente concretas e esperamos respostas que sejam igualmente concretas", disse Lavrov.
"Este é um momento crítico. Você tem razão: não esperamos resolver nossas diferenças aqui hoje", disse Blinken, em seus comentários de abertura.
"Mas eu espero que possamos testar se o caminho da diplomacia, do dialogo, permanece aberto. Estamos comprometidos a caminhar por esse caminho, a resolver nossas diferenças de maneira pacífica e espero testar essas proposições", acrescentou Blinken.
As esperanças de Washington de criar uma frente unida de oposição a Moscou ficaram mais complicadas pelos comentários do presidente norte-americano Joe Biden em entrevista coletiva na quarta-feira, quando ele previu que a Rússia "entraria" na Ucrânia e que Moscou pagaria caro.
"Os comentários do presidente Biden não ajudaram, mesmo que tenham sido corrigidos posteriormente", disse Thomas Kleine-Brockhoff, vice-presidente do gabinete de Berlim do The German Marshall Fund dos Estados Unidos.
A Rússia concentrou dezenas de milhares de tropas em suas fronteiras com a Ucrânia. Estados ocidentais temem que Moscou esteja planejando um novo ataque ao país que invadiu em 2014 para anexar a península da Crimeia. A Rússia nega que esteja planejando um ataque, mas diz que pode tomar uma ação militar não especificada se uma lista de exigências não for cumprida, incluindo uma promessa da Otan de nunca admitir a Ucrânia na aliança militar.
Questionado pela emissora CBS News se a Rússia estava intimidada pela Ucrânia, o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov, disse ao chegar para as negociações em um dia frio e tempestuoso em Genebra: "Não temos medo de ninguém, nem mesmo dos EUA".
Em Moscou, o Kremlim reagiu friamente à iniciativa do Parlamento russo de reconhecer duas regiões separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia como Estados independentes, dizendo que era importante evitar medidas que possam aumentar as tensões.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que era importante não tentar ganhar pontos políticos em uma situação tão frágil.
O Kremlin não esperava que Blinken entregasse uma resposta por escrito às exigências da Rússia por garantias de segurança do Ocidente na sexta-feira, disse Peskov.
A Rússia quer que a Otan prometa não aceitar a Ucrânia como membro e que interrompa sua ampliação em direção ao leste. A aliança liderada pelos EUA rejeitou isso.
(Reportagem de Simon Lewis; Reportagem adicional de Alexander Ermochenko em Donetsk e Mark Trevelyan em Londres)