Por Pedro Fonseca e Leonardo Goy
RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA (Reuters) - A maioria dos locais de votação do país fechou as urnas às 17h (de Brasília) deste domingo depois que milhões de pessoas participaram de uma eleição marcada pela indefinição do adversário da presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) em um eventual segundo turno, com Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) em empate técnico em segundo lugar, de acordo com as últimas pesquisas que indicaram vantagem numérica do tucano.
Apesar de a votação ter sido oficialmente encerrada nos Estados com o mesmo fuso-horário de Brasília, em alguns locais o horário seria estendido para quem já estivesse na fila devido a atrasos provocados por alguns problemas com equipamentos de identificação por biometria.
Os primeiros resultados da apuração da votação presidencial só serão conhecidos após o encerramento da votação em todo país.
Os três principais candidatos à Presidência votaram logo pela manhã. Dilma foi a primeira dos três a votar, em Porto Alegre, mostrando bom humor e chegando a fazer o sinal de vitória. A presidente e candidata à reeleição reconheceu que trabalha com a definição da disputa presidencial em dois turnos.
"A hipótese que eu tenho trabalhado desde o início da eleição é de dois turnos. O resto, só as urnas vão definir o que acontecerá", disse Dilma, que votou vestida de vermelho e acompanhada do candidato à reeleição ao governo do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT).
Questionada sobre qual candidato prefere enfrentar na segunda rodada de votação, Dilma afirmou que "quem tem que preferir é o povo". Depois de votar na capital gaúcha, Dilma seguiu para Brasília, onde acompanha o desenrolar da eleição.
Aécio votou em Belo Horizonte, vestido de camisa azul. O ex-governador de Minas Gerais demonstrou confiança e posou para fotos fazendo sinais de positivo e de vitória, e declarou nunca ter deixado de acreditar que estaria no segundo turno.
"Eu nunca perdi a confiança, porque sempre compreendi que temos o melhor projeto para o Brasil, porque o sentimento de mudança que permeia a sociedade brasileira --e ele é amplo-- na verdade pressupõe não apenas a derrota do PT, que é essencial, mas a introdução de um projeto capaz de permitir o Brasil voltar a crescer", afirmou Aécio em entrevista coletiva.
Também pela manhã, Marina votou em Rio Branco, no Acre, ao lado de familiares. Vestindo blusa de cor amarela, a candidata fez o sinal de vitória antes de votar. Ela chegou à sala por volta de 10h35 no horário de Brasília, 8h35 no Acre, portanto, logo após abertura das urnas no Estado.
A ex-ministra do Meio Ambiente usou o cadastramento biométrico. A primeira tentativa não funcionou, mas na segunda, com o dedo indicador, não teve problemas.
Marina, terceira colocada na disputa presidencial de 2010, demonstrou confiança que desta vez estará no segundo turno. "Estou confiante de que estaremos no segundo turno, se Deus quiser, e o povo brasileiro", disse ela em entrevista coletiva.
Questionada por jornalistas sobre eventuais alianças no segundo turno, a candidata limitou-se a responder que "segundo turno se discute no segundo turno".
REVIRAVOLTAS
Quase 143 milhões de brasileiros estavam habilitados a votar neste domingo para escolher o próximo presidente, na eleição mais acirrada dos últimos tempos, marcada por duas grandes reviravoltas.
A primeira ocorreu em meados de agosto com a trágica morte de Eduardo Campos, então candidato do PSB à Presidência, e a entrada como um furacão de Marina em seu lugar. Em poucos dias, a ambientalista encostou em Dilma nas intenções de voto e jogou Aécio para um distante terceiro lugar.
A segunda grande virada desta campanha, que precisa ser confirmada pelas urnas, é a volta de Aécio ao segundo lugar, ultrapassando Marina na reta final na briga por uma vaga na segunda rodada de votação contra Dilma.
Pesquisas Datafolha e Ibope divulgadas na véspera da eleição mostraram que, embora a situação ainda seja de empate técnico entre Aécio e Marina, houve uma inversão na disputa pelo segundo lugar no primeiro turno, e o candidato tucano passou a ter vantagem numérica sobre a ex-ministra.
Após votar em São Bernardo do Campo (SP), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse acreditar que a disputa no segundo turno será mesmo entre Dilma e Aécio, repetindo a polarização entre PT e PSDB das últimas eleições presidenciais.
"O Aécio acho que vai (para o segundo turno)", disse Lula a jornalistas. "Porque são duas forças políticas muito fortes, você não inventa candidatura de última hora... Quando começa o jogo para valer tem que ter time para colocar em campo."
O também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que as chances de o candidato tucano passar para o segundo turno "são enormes", após registrar seu voto em São Paulo.
A reeleição de Dilma representaria um quarto mandato consecutivo do PT na Presidência, após dois governos de Lula, o que torna a votação uma espécie de referendo sobre a continuidade ou não do partido no poder.
"Eu pensei bem sobre os candidatos e queria alguém que pudesse resolver o problema da violência. Votei na Marina. Acho que a Dilma já deu. As coisas que prometeu, não fez", disse a baiana Rosilene Silva de Jesus, de 29 anos, moradora da favela Paraisópolis, em São Paulo.
Eleitores que disseram votar em Dilma apontaram benefícios do governo nos últimos anos.
"Vou votar na Dilma. Acho que o voto não é apenas individual, é coletivo, e muitas pessoas tiveram benefícios no governo dela", disse a estudante carioca Agatha Mandarino, de 17 anos, que vai votar pela primeira vez.
"Me incomoda saber que tem muita enganação no país, mas de certa forma o Brasil funcionou nos últimos 10 anos. Espero que no próximo governo o Brasil ingresse de vez nessa história de que somos a bola da vez", acrescentou.
TRANSTORNOS COM BIOMETRIA
O maior uso do sistema de identificação biométrica de eleitores causou alguns transtornos e atrasos em seções de votação em diversas partes do país, mas o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) minimizou os problemas.
"Não é um problema generalizado", afirmou a jornalistas o secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Giuseppe Janino, acrescentando que há relatos de dificuldades pulverizados em localidades como Distrito Federal, Paraíba, Goiás e no interior do Paraná.
A biometria está sendo usada este ano em 764 municípios, onde votam cerca de 21 milhões de eleitores, o equivalente a quase 15 por cento do total do país.
De acordo com balanço de ocorrências divulgado pelo tribunal, até as 16h51 foram registrados 3.091 casos, com ou sem prisão, de pessoas realizando práticas proibidas durante as eleições. No total, foram presos 80 candidatos e 1.129 não candidatos até esse horário. O Rio de Janeiro é o Estado que teve mais candidatos presos: 25.
Mais cedo, o presidente do TSE, ministro Dias Toffoli, havia dito que a votação era a "mais tranquila desde a redemocratização" em 1989.
(Reportagem adicional de Camila Moreira, Gustavo Bonato e Anna Flávia Rochas, em São Paulo; Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro; Maria Carolina Marcello, Nestor Rabello e Jeferson Ribeiro, em Brasília)