Por Nandita Bose e Trevor Hunnicutt e Jeff Mason
WASHINGTON (Reuters) - A decisão do presidente dos EUA, Joe Biden, de paralisar envios de milhares bombas para Israel, em razão dos ataques do país aliado contra Rafah, foi elogiada por alguns democratas críticos, mas não interromperá os protestos sobre Gaza que têm prejudicado sua tentativa de reeleição, segundo estrategistas e organizadores.
A decisão de Biden na semana passada marca a primeira vez que ele reteve auxílio militar norte-americano a Israel desde que os israelenses comaçaram a atacar Gaza, sete meses atrás, perseguindo militantes do Hamas. Republicanos e alguns democratas acusaram Biden de colocar a segurança do aliado mais próximo dos EUA na região em risco.
Muitos dizem que também foi pouco e tarde demais para satisfazer a coalizão de esquerda de eleitores jovens e não brancos, que lideraram protestos contra os ataques de Israel.
Protestos pró-palestinos abalaram campus universitários ao redor do país, acompanharam Biden em eventos privados e pressionaram democratas em Estados cruciais a um voto “descompromissado” para sinalizar insatisfação, enquanto as mortes em Gaza, ocupada pelos israelenses, subiam a 35.000.
“As palavras e o gesto de Biden assumindo responsabilidade pela cumplicidade dos EUA nesses crimes são bem-vindos”, disse Stephanie Fox, diretora executiva do Jewish Voice for Peace, um grupo cujos membros estão envolvidos nos protestos ao redor do país, incluindo nos campus universitários.
“Para suas palavras significarem alguma coisa, em vez de uma pausa extraordinária, precisa ser o começo de uma mudança de maré na política norte-americana”, disse Fox.
Os manifestantes querem a suspensão de auxílio militar a Israel, um cessar-fogo permanente em Gaza e que as universidades interrompam seus investimentos em empresas que apoiam as ações israelenses. Israel está retaliando ataques realizados pelo Hamas em 7 de outubro, que mataram 1.200 pessoas.
“Eu acho que os comentários de Biden mexeram a agulha… mas o que não sabemos é se é uma medida de relações públicas para tentar aplacar alguns dos seus adversários sobre o assunto ou se é real, porque ele também disse que seu apoio a Israel é irredutível”, disse Medea Benjamin, co-fundadora do Codepink, outro grupo cujos membros estão participando dos protestos ao redor do país.
“Continuaremos protestando”, afirmou Benjamin.
Biden defendeu um cessar-fogo temporário e afirmou que apoia uma solução de dois Estados em algum momento. Embora esteja ficando cada vez mais crítico do governo de Israel, mais bilhões de dólares em envios de armas continuam engatilhados.
Na sexta-feira, tropas israelenses levaram sua guerra por terra contra os combatentes palestinos à cidade de Rafah, com a ONU alertando que auxílio humanitário para a devastada Faixa de Gaza pode acabar sendo interrompido em alguns dias.
ISRAEL É ASSUNTO EM PEQUENO GRUPO
Stanley Greenberg, pesquisador veterano que trabalhou com importantes democratas norte-americanos e israelenses, realizou uma consulta a um grupo focal na quarta-feira com eleitores com menos de 45 anos, e Gaza foi um dos principais assuntos levantados, após o aumento dos preços.
“Esteve entre as principais preocupações deles”, disse, sobre Gaza. Questionados se “os EUA foram longe de mais no apoio a Israel, muitos disseram sim”.
Alguns pesquisadores e a campanha de reeleição de Biden acreditam que a questão ressoa apenas para um grupo pequeno de pessoas. “É muito importante para algumas pessoas, mas elas estão na minoria no eleitorado”, afirmou Patrick Murray, diretor do Polling Institute da Universidade de Monmouth.
A mensagem da campanha é que Biden é experiente em questões diplomáticas e tomará decisões difíceis e necessárias, independente das pesquisas, segundo uma pessoa com conhecimento das ideias da campanha.
(Reportagem de Nandita Bose, Trevor Hunnicutt, Jeff Mason)