Por Katy Migiro
MAHAMA, Ruanda (Reuters) - Mais de uma dezena de alunas rompeu em lágrimas enquanto uma delas relatava a Malala Yousafzai os estupros que sofreram e testemunharam enquanto fugiam para Ruanda em 2015 para escapar dos combates no Burundi.
A ativista paquistanesa de 19 anos, que advoga em defesa da educação feminina, se mostrou visivelmente comovida com as refugiadas burundienses, o que levou seu pai, Ziauddin Yousafzai, a interferir e responder em seu nome.
"É extremamente chocante", disse a mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel, que sobreviveu a um ataque quase fatal do Taliban, à Thomson Reuters Foundation no campo de refugiados de Mahama, em Ruanda, na quinta-feira.
"Suas histórias são muito trágicas, muito tocantes e emocionantes."
O Burundi está mergulhado em uma crise que já dura um ano, causou a morte de 450 pessoas e obrigou 270 mil a fugirem desde que o presidente do país, Pierre Nkurunziza, decidiu, com sucesso, buscar um terceiro mandato. Opositores dizem que sua decisão violou a Constituição e um acordo que pôs fim a uma guerra civil em 2005.
Ange-Mireille Ndikumwenayo relatou que estava em um ônibus a caminho de Ruanda em 2015 quando viu duas meninas sendo estupradas por um grupo ao lado da estrada.
"Elas tentaram correr e pediram ajuda, mas ninguém conseguiu ajudá-las porque eles tinham armas", contou a jovem de 20 anos referindo-se à Imbonerakure, a ala jovem do partido governista, que grupos de direitos humanos afirmam terem atacado e torturado adversários do governo, acusações que esta nega.
"Aquilo partiu meu coração", lembrou.