Por Duncan Miriri
NAIRÓBI (Reuters) - O passado colonial manchado do Reino Unido foi o centro das atenções no Quênia nesta terça-feira, quando o rei Charles iniciou uma visita de Estado de quatro dias, pronto para reconhecer "aspectos dolorosos" da longa história compartilhada pelos países, em meio à pressão de líderes locais por reparações.
Acompanhado pela rainha Camilla em sua primeira visita como monarca a uma ex-colônia, Charles chegou à capital Nairóbi durante a noite.
Em uma manhã chuvosa, ele foi recebido no Palácio Presidencial com uma salva de 21 tiros e uma guarda de honra e, acompanhado pelo presidente William Ruto, plantou árvores no terreno do palácio. Em seguida, o casal real depositou uma coroa de flores no Túmulo do Guerreiro Desconhecido em Uhuru Gardens, onde o Quênia declarou independência em dezembro de 1963.
A visita de Charles ocorre em um momento em que as ex-colônias estão pedindo que o Reino Unido faça mais para reconhecer os abusos de seu passado colonial. Algumas delas -- notadamente Barbados e Jamaica -- estão reavaliando seus laços com a monarquia.
Ainda como herdeiro do trono, Charles surpreendeu a muitos na cúpula do ano passado da Commonwealth -- associação voluntária de países desenvolvida a partir do Império Britânico -- ao reconhecer o papel da escravidão nas raízes da organização.
Muitos cidadãos de ex-colônias britânicas -- incluindo líderes do povo Nandi do Quênia - querem que Charles vá além, pedindo desculpas diretas e endossando reparações pelos abusos da era colonial, incluindo tortura, assassinatos e expropriação generalizada de terras, grande parte das quais ainda em mãos britânicas.
O Palácio de Buckingham disse que a visita "reconheceria os aspectos mais dolorosos da história compartilhada do Reino Unido e do Quênia, incluindo a Emergência (1952-1960). Sua Majestade reservará um tempo...para aprofundar sua compreensão dos erros sofridos nesse período pelo povo do Quênia".
Durante a revolta Mau Mau, ocorrida entre 1952 e 1960 na região central do Quênia, cerca de 90.000 quenianos foram mortos ou mutilados e 160.000 foram detidos, segundo estimativa da Comissão de Direitos Humanos do Quênia (KHRC).
O governo do Reino Unido já havia expressado pesar por esses abusos e fechou um acordo de 20 milhões de libras (24 milhões de dólares) em 2013.
Charles também planeja se reunir com empresários do movimentado cenário tecnológico do Quênia, visitar instalações de vida selvagem e viajar para a cidade portuária de Mombasa, no sudeste do país.
(Reportagem adicional de Aaron Ross e Hereward Holland)