Por Catarina Demony
LONDRES (Reuters) - Todos os três candidatos na disputa para secretário-geral da Commonwealth, ou Comunidade Britânica de Nações -- clube de 56 nações encabeçado pelo rei britânico Charles --, disseram nesta quarta-feira que apoiam reparações pela escravidão transatlântica e pelo colonialismo.
A Commonwealth nasceu do Império Britânico e é uma das maiores organizações internacionais do mundo, contando com 2,7 bilhões de pessoas. Entre os membros estão o Canadá e a Índia, além de 21 países africanos e ilhas caribenhas como Barbados e Jamaica.
Charles expressou profundo pesar pela escravidão em um discurso para líderes da Commonwealth em 2022 e, no ano passado, ofereceu apoio para um levantamento que vai examinar as conexões da monarquia britânica com a escravidão. O Reino Unido, no entanto, assim como a maior parte das potências coloniais, rejeita os pedidos por reparação.
O próximo líder da Commonwealth, que vai suceder a britânica Patricia Scotland, será eleito em outubro em um encontro de chefes políticos em Samoa.
Em um debate na Chatham House, em Londres, os três candidatos declarados -- Mamadou Tangara, da Gambia, Shirley Botchwey, de Gana, e Joshua Setipa, de Lesoto -- disseram apoiar a ideia de reparação por conta da escravidão e do colonialismo.
"Apoio a reparação", disse Botchwey, ministra das Relações Exteriores de Gana, acrescentando que a Commonwealth pode ter um papel a desempenhar no assunto caso um dos Estados membros peça por "uma voz comum" no tema.
Setipa, ex-ministro de Lesoto do Comércio e da Indústria, disse que se eleito, não iria esperar pelos países membros para fazer a Commonwealth agir.
"A Commonwealth tem um longo histórico de facilitar a discussão de assuntos difíceis", disse.
Tangara, um diplomata e político da Gâmbia, disse que "apoia completamente" a reparação, mas cabe aos países membros liderar o diálogo, que pode ser facilitado pela Commonwealth.
Tanto Botchwey quanto Setipa disseram que as reparações não envolvem apenas pagamentos financeiros, mas também o apoio para enfrentar a mudança climática e construir resiliência econômica nos países. Setipa acrescentou que tais questões são cruciais para resolver o legado de séculos de escravidão e colonialismo.
Entre os séculos 15 e 19, pelo menos 12,5 milhões de africanos foram sequestrados e transportados à força por mercadores europeus e vendidos como escravos. O Reino Unido transportou cerca de 3,2 milhões de pessoas, país mais ativo depois de Portugal, que escravizou quase 6 milhões de pessoas.