Por Crispian Balmer
VENEZA (Reuters) - Um documentário sobre a invasão russa na Ucrânia exibido no Festival de Cinema de Veneza deveria servir de alerta para o restante da Europa sobre perigo que Moscou representa, disseram seus protagonistas nesta quarta-feira.
"Songs of Slow Burning Earth", dirigido por Olha Zhurba, mostra o impacto devastador do conflito na vida de ucranianos comuns, do momento em que os primeiros mísseis russos tomaram os céus do país, em fevereiro de 2022, até os dias atuais, com a resistência ainda em andamento contra um dos exércitos mais poderosos do mundo.
"É uma boa oportunidade para que outros países do mundo pensem e (vejam) o que estamos enfrentando agora e para, no futuro, estarem prontos e não serem tão ingênuos quanto nós fomos", disse Ganna Vasyk, uma médica da linha de frente do Exército que participa do filme.
A Rússia negou, repetidas vezes, que planejava atacar a Ucrânia antes de o presidente Vladimir Putin mandar os tanques cruzarem a fronteira. Posteriormente, o país rejeitou insinuações de que poderia atacar outros países que integraram a União Soviética e que são, agora, parte do Ocidente.
"Acho que esse filme é muito importante para entender que ninguém pode continuar ignorante, porque a ignorância mata", disse Vasyk em coletiva de imprensa antes da estreia do filme.
O documentário começa com ligações em pânico ao serviço de emergência ucraniano com a primeira leva de bombas russas explodindo ao fundo.
Conforme a guerra se aproxima, vemos civis desesperados tentando fugir da capital Kiev, enquanto voluntários exaustos ajudam famílias a escapar de Mariupol, no sudeste ucraniano, que viu os piores combates no início do conflito.
Depois, a câmera filma através do para-brisa de um caminhão que transporta o corpo de um soldado morto, com expectadores na estrada ajoelhados na neve enquanto o caixão passa rumo ao cemitério lotado.
Zhurba mostra, posteriormente, médicos tentando identificar soldados ucranianos mortos e investigadores cavando em busca de uma possível vítima de crime de guerra. O que a documentarista nunca mostra é sangue, vísceras ou explosões. Tudo isso fica fora do campo de visão.
"Se (o filme) mostrar cadáveres ou destruição, isso apenas irá chocá-lo e não vai evocar o sentimento correto do que é a guerra. Acho que arte é muito fraca e não há linguagem para explicar essa experiência (da guerra)", disse Zhurba.
O documentário mostra a resiliência daqueles que acabaram engolidos pelo conflito, seja do padeiro que continua a trabalhar mesmo com as bombas caindo nas proximidades ou de soldados que aprender a andar com as suas novas próteses.
(Reportagem de Crispian Balmer)