BARCELONA (Reuters) - Os partidos separatistas devem conquistar o controle do parlamento da Catalunha nas eleições deste domingo, colocando a região no caminho de uma declaração unilateral de independência da Espanha, o que o governo central diz ser impossível.
Pesquisas de opinião mostram que o principal grupo separatista "Junts Pel Si" (Juntos pelo Sim) e o partido de esquerda CUP devem conseguir quase 50 por cento dos votos, mas ainda assim garantir a maioria das 135 vagas na assembleia regional.
Ambos os partidos já disseram que tal resultado os permitiria declarar unilateralmente a independência dentro de 18 meses, em um plano que faria as novas autoridades catalãs aprovarem sua própria constituição e construir instituições próprias como um exército, um banco central e um sistema judiciário.
O governo espanhol de centro-direita, do primeiro-ministro Mariano Rajoy, que se opôs às tentativas de referendar a separação, classificou o plano como "sem sentido" e prometeu impedir sua realização na Justiça. A constituição espanhola não permite a separação de nenhuma de suas regiões.
O líder do governo regional, Artur Mas, disse que o único caminho para a Catalunha seria sua separação da Espanha, mas muitos dos 5,5 milhões de eleitores deste domingo disseram não acreditar na independência da região.
Muitos disseram que usam seus votos como uma maneira de pressionar as autoridades catalãs e espanholas a discutirem um regime tributário mais favorável, assim como mais leis para proteger o idioma e a cultura da Catalunha.
Carmen Marfa, uma aposentada de 65 anos de Barcelona que votou no Junts pel Si disse esperar que as negociações sobre essas questões comecem logo após a eleição.
"Os políticos têm que arregaçar as mangas agora, parar com esse jogo de quem é o mais corajoso e fazer concessões dos dois lados", disse logo após votar.
Jose Luis Bonet, um arquiteto de 43 anos, disse que a eleição era muito confusa e passava uma imagem ruim da Espanha e da Catalunha para o mundo.
Bonet, que votou no partido socialista, disse que não é a favor da independência mas acredita que o governo espanhol deveria ter aceitado um referendo sobre a questão.
"Essa eleição é vergonhosa. Seria muito melhor organizar um pleito como na Escócia, com debates e informação adequada para que os eleitores se decidam", disse.
O comparecimento até as 11 horas da manhã no horário local era de 35 por cento dos eleitores, 5 pontos percentuais a mais que nas últimas eleições regionais em 2012. Pesquisas dizem que um alto comparecimento pode levar a um resultado surpreendente.
CONSEQUÊNCIAS
A campanha separatista enfrenta um momento de definição. O apoio à causa tem diminuído consistentemente após atingir o ápice em 2013, e qualquer derrota em conseguir a maioria nas eleições poderia representar um sério golpe ao movimento.
O pleito também poderá influenciar o curso da eleição geral no país em dezembro.
Os principais partidos nacionais, todos interessados em angariar votos na segunda região mais populosa da Espanha, já demonstraram interesse em discutir com a Catalunha um regime de impostos mais favoráveis e mais gastos com infraestrutura caso saiam vencedores nas eleições.
Dependendo de quem formar o governo em Madri, uma reforma constitucional para reconhecer a Catalunha como uma nação dentro do Estado espanhol poderá acontecer, mas a maioria dos analistas e políticos diz que as negociações poderão demorar.
O mercado financeiro também acompanha o resultado das eleições. Enquanto alguns investidores acreditam que a independência possa acontecer a qualquer momento, a diferença entre os rendimentos de títulos catalães e espanhóis passa perto do maior valor em dois anos.
Os bancos espanhóis, incluindo alguns baseados em Barcelona, já alertaram que a secessão poderá causar turbulências financeiras, enquanto o Banco da Espanha já disse que a Catalunha pode estar se arriscando a sair da zona do Euro.
(Por Julien Toyer)