Por Layli Foroudi e LEA GUEDJ
BOBIGNY (Reuters) - O técnico de boxe Kab Thiam votou duas vezes em uma eleição francesa: em 2002, para evitar que o candidato de extrema direita Jean-Marie Le Pen vencesse, e no último domingo, em favor do candidato de extrema esquerda.
Agora, no entanto, com seu favorito, Jean-Luc Melenchon, fora, Thiam não pretende votar no segundo turno, marcado para 24 de abril. Ele, que tem 39 anos, acha que ambos os candidatos, o atual presidente Emmanuel Macron e Marine Le Pen, filha de Jean-Marie, desagradáveis.
"Macron e Le Pen compartilham as mesmas ideias", disse Thiam enquanto lutava com outro boxeador mais novo na academia Mohamed Ali em Bobigny, um subúrbio etnicamente diverso ao norte de Paris.
Melenchon obteve 60% dos votos do primeiro turno em Bobigny, que está no departamento mais pobre da França, Seine-Saint-Denis. Agora, seus apoiadores nos subúrbios de Paris e além serão cruciais para decidir um segundo turno apertado.
Muitos, como Thiam, sentem que a França ficou cada vez mais islamofóbica, já que o governo de Macron aprovou uma série de leis que visam combater o extremismo religioso e preservar valores nacionais seculares.
Há também a percepção de que Macron é um "presidente dos ricos", desconectado do povo, uma vez que adotou posições econômicas de direita. Essa visão parece impedir outra frente unida contra a extrema direita, como ocorreu em eleições anteriores, e pode levar ao menor comparecimento em décadas, mostram as pesquisas.
Uma análise dos resultados do primeiro turno feita pela Reuters mostrou que ele tem enfrentado dificuldades em ganhar apoio em áreas mais pobres e que vai ser complicado encontrar eleitores fora da sua base da classe média urbana e escolarizada.
Macron deve, no entanto, vencer por uma pequena diferença.
Em um segundo turno entre os mesmos candidatos em 2017, Macron obteve 79% dos votos -- acima da média nacional de 66% -- em Seine-Saint-Denis, que votou em massa contra Le Pen.
Agora, no entanto, "Macron está polarizando essas áreas porque ele é considerado de direita e alguém que favorece os ricos, enquanto Le Pen é menos assustadora que seu pai", disse Jean-Yves Dormagen, professor da Universidade de Montpellier.
"Ela fez de tudo para suavizar seu discurso em relação ao tema da identidade, então ela parece mais razoável e menos racista."
(Por Layli Foroudi e Lea Guedj)