Por Michelle Nichols
NAÇÕES UNIDAS (Reuters) - O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, apelou ao Conselho de Segurança nesta segunda-feira por seu apoio para ajudar a proteger civis no Sudão, mas disse que as condições no país não são adequadas para o envio de uma força da ONU.
"O povo do Sudão está vivendo um pesadelo de violência - com milhares de civis mortos e inúmeros outros enfrentando atrocidades indescritíveis, incluindo estupro generalizado e agressões sexuais", disse Guterres ao conselho.
A guerra eclodiu no Sudão em meados de abril de 2023 devido a uma luta pelo poder entre o Exército sudanês e as paramilitares Forças de Apoio Rápido (RSF), antes de uma planejada transição para um governo civil, e desencadeou a maior crise de deslocamento do mundo.
"O Sudão está, mais uma vez, se tornando rapidamente um pesadelo de violência étnica em massa", disse Guterres, referindo-se a um conflito na região de Darfur, há cerca de 20 anos, que levou o Tribunal Penal Internacional a acusar ex-líderes sudaneses de genocídio e crimes contra a humanidade.
A guerra atual tem produzido ondas de violência de cunho étnico atribuídas em grande parte à RSF. O grupo matou pelo menos 124 pessoas em um vilarejo no Estado de El Gezira na sexta-feira, segundo ativistas, em um dos incidentes mais mortais do conflito.
A RSF já havia negado ter causado danos a civis no Sudão e atribuiu a atividade a agentes rebeldes.
Guterres reconheceu os apelos de grupos sudaneses e de direitos humanos por medidas mais rigorosas para proteger os civis, incluindo o possível envio de alguma forma de força imparcial, dizendo que eles refletiam "a gravidade e a urgência da situação".
"No momento, não existem condições para o envio bem-sucedido de uma força das Nações Unidas para proteger os civis no Sudão", disse ao conselho, mas acrescentou que está pronto para discutir outras formas de reduzir a violência e proteger os civis.
"Isso pode exigir novas abordagens que sejam adaptadas às circunstâncias desafiadoras do conflito", afirmou Guterres.
A ONU afirma que cerca de 25 milhões de pessoas - metade da população do Sudão - precisam de ajuda, uma vez que a fome se instalou nos campos de deslocados e 11 milhões de pessoas fugiram de suas casas. Cerca de 3 milhões dessas pessoas foram para outros países.