Por Tangi Salaün e Antony Paone
PARIS (Reuters) - Um franco-marroquino que se acredita ser o único membro remanescente de um grupo que matou 130 pessoas em uma série de ataques em Paris se descreveu nesta quarta-feira como "um soldado do Estado Islâmico" no início do julgamento do massacre de 2015.
Salah Abdeslam é um dos 20 homens acusados de envolvimento nos ataques de homens armados com coletes de explosivos em seis restaurantes e bares, na casa de shows Bataclan e em um estádio no dia 13 de novembro de 2015.
A responsabilidade pelos atentados, nos quais centenas também ficaram feridos, foi reivindicada pelo Estado Islâmico, que exortou seus seguidores a atacarem a França devido à sua participação na luta contra o grupo radical no Iraque e na Síria.
A polícia reforçou a segurança ao redor do tribunal do Palácio de Justiça, no centro de Paris, e os acusados devem depor atrás de uma divisória de vidro reforçado em uma sala especial.
Indagado sobre sua profissão, Abdeslam, de 31 anos, disse à corte: "Abandonei meu emprego para me tornar um soldado do Estado Islâmico."
"Quero declarar que não existe Deus além de Alá e que Maomé é seu servo", disse.
Antes do julgamento, sobreviventes e parentes das vítimas disseram estar impacientes para ouvir o depoimento, que pode ajudá-los a entender melhor o que aconteceu e por que.
"É importante que as vitimas possam testemunhar, possam dizer aos perpetradores, aos suspeitos que estão sendo julgados, sobre o sofrimento", disse Philippe Duperron, cujo filho Thomas, de 30 anos, morreu nos ataques, à Reuters.
O julgamento durará nove meses, e cerca de 1.800 queixosos e mais de 300 advogados participam do que o ministro da Justiça, Eric Dupond-Moretti, descreve como uma maratona judicial inédita.
Os 20 acusados incluem 11 já presos à espera de julgamento. Seis serão julgados in absentia --acredita-se que a maioria esteja morta.
"O que me importa no julgamento é o depoimento de outros sobreviventes, pessoas que estavam nos terraços (que foram visados pelos agressores), no Stade de France, ouvir como eles estão lidando com isso há seis anos", disse Jérôme Barthelemy, de 48 anos. "Quanto aos acusados, nem espero que falem."
A maioria destes pode ser condenada à prisão perpétua se condenada. Os outros suspeitos são acusados de ajudar a providenciar armas e carros ou de desempenharem algum papel na organização dos ataques.
(Por Tangi Salaun, Michaela Cabrera, Antony Paone, Benoit Van Overstraeten, Ingrid Melander, Blandine Henault)