Por Pavel Polityuk e Tom Balmforth
KIEV/MOSCOU (Reuters) - A Ucrânia foi atingida por um imenso ataque cibernético que alertou seus cidadãos a "terem medo e esperarem o pior", e a Rússia, que moveu mais de 100 mil tropas na região de fronteira com sua vizinha, publicou fotos na televisão na sexta-feira mostrando mais forças em um exercício militar.
A escalada da situação acontece após o fracasso nas negociações entre Rússia e os países ocidentais, que temem que Moscou possa lançar um novo ataque à Ucrânia, país que já invadiu em 2014.
"Os tambores da guerra estão soando alto", disse um diplomata de alto escalão dos Estados Unidos.
A Rússia nega os planos de atacar a Ucrânia, mas diz que pode adotar ações militares não especificadas se suas exigências não forem atendidas, entre elas a promessa da aliança militar Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de não admissão de Kiev na aliança.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse nesta sexta-feira que Moscou espera que as negociações sobre segurança com os Estados Unidos sejam retomadas, mas que isso dependerá da resposta norte-americana às propostas russas.
"Categoricamente não aceitaremos a aparição da Otan diretamente em nossas fronteiras, especialmente dado o curso atual da liderança ucraniana", disse ele.
Indagado sobre o que a Rússia quis dizer quando ameaçou adotar "ação técnica-militar" se as negociações fracassassem, Lavrov disse: "Medidas para enviar equipamento militar, isso é óbvio. Quando tomamos decisão sobre equipamento militar, entendemos o que queremos dizer e para o que estamos nos preparando".
Imagens do Ministério da Defesa da Rússia divulgadas pela agência de notícias RIA mostraram veículos blindados e outros equipamentos militares sendo colocados em trens no extremo leste russo, no que Moscou chamou de parte de exercícios para uma inspeção para treinar o deslocamento por uma longa distância.
"Esse provavelmente é um disfarce para mover as unidades em direção à Ucrânia", disse Rob Lee, analista militar e pesquisador no Instituto de Pesquisas em Política Externa dos EUA.
Os movimentos indicam que a Rússia não tem intenção de diminuir as tensões em relação à Ucrânia, tendo usado seu acúmulo de tropas para forçar o Ocidente até a mesa de negociação para pressionar por demandas amplas por "garantias de segurança", ---várias delas descritas pelos Estados Unidos como "sem chance de avançar".
Autoridades ucranianas investigam um gigantesco ataque virtual, que atingiu órgãos do governo, inclusive o Ministério das Reações Exteriores, o gabinete de ministros, e o Conselho de Defesa e Segurança.
"Ucranianos! Todos os seus dados pessoais foram carregados na rede pública. Todos os dados no computador foram destruídos, é impossível restaurá-los", disse uma mensagem visível em websites hackeados do governo, escrito em ucraniano, russo e polonês.
"Todas as informações sobre vocês se tornaram públicas, tenham medo e esperem o pior. Isso é para o seu passado, presente e futuro."
Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia disse à Reuters que é muito cedo para saber quem pode estar por trás do ataque, mas afirmou que a Rússia já esteve por trás de ataques semelhantes no passado. A Rússia não comentou imediatamente, mas já negou anteriormente a responsabilidade por ataques cibernéticos na Ucrânia.
O governo ucraniano disse que restaurou a maioria dos sites afetados e que nenhum dado pessoal foi roubado. Uma série de outros websites do governo foi suspensa para prevenir que o ataque se espalhasse.
(Reportagem adicional de Matthias Williams em Kiev, Anton Kolodyazhnyy e Andrew Osborn em Moscou)