Por Jeff Mason
(Reuters) - Quando o debate entre os presidenciáveis visto como crucial para as eleições norte-americanas começou na noite de terça-feira na Filadélfia, a vice-presidente Kamala Harris atravessou o palco, manobrou em torno de um púlpito e estendeu a mão em sinal de cumprimento.
"Kamala Harris", disse, ao ex-presidente Donald Trump, apresentando-se.
Ao encontrá-lo pela primeira vez pessoalmente, Kamala forçou seu oponente a apertar a sua mão, algo que ele e seu antecessor como candidato democrata à presidência, Joe Biden, não fizeram em junho.
Esse foi um dos muitos momentos do debate em que os dois candidatos usaram a linguagem corporal, o tom e o comportamento, em vez de pontos de discussão ou posições políticas, para se confrontarem.
"Foi uma jogada de poder", disse o especialista em linguagem corporal Mark Bowden, referindo-se a Kamala buscando Trump para um aperto de mão. "Acho que ele não estava esperando isso."
A vice-presidente manteve um rosto expressivo durante toda a noite, levantando as sobrancelhas, rindo e olhando como se incrédula enquanto Trump falava, momentos que foram rapidamente fotografados e recirculados por seus fãs nas redes sociais. Em alguns momentos, ela olhou para o candidato republicano de forma curiosa e comentou que os comentários dele "não eram verdadeiros".
Trump manteve uma expressão séria no rosto durante a maior parte do tempo, mas às vezes sorria com os lábios franzidos ou balançava a cabeça. Ele também acusou Kamala de inverdades. "Lá vai ela de novo. É uma mentira", disse, em determinado momento.
Durante todo o debate, os dois candidatos levantaram suas vozes. Kamala, de 59 anos, frequentemente se voltava para seu oponente enquanto falava, parecendo, em um determinado momento, repreendê-lo. Trump, 78 anos, olhava para a frente na maior parte do tempo.
"Suas abordagens foram muito diferentes", disse a cientista comportamental Abbie Marono. "Ele não se dirigiu a ela; não se orientou em sua direção quando estava falando... Ela era um pouco antagônica em relação a ele, mas também era muito sensível emocionalmente a ele."
Em determinado momento, Trump tentou virar a mesa contra Kamala quando ela se intrometeu, dizendo-lhe para esperar porque ele estava falando. "Isso soa familiar?", perguntou, em uma aparente referência ao debate de Kamala de 2020 com o então candidato a vice-presidente Mike Pence, a quem ela repreendeu por fazer o mesmo.
Kamala frequentemente voltou aos pontos de discussão, repetindo propostas de políticas sobre habitação e pequenas empresas e pedindo que o país "virasse a página" em relação a Trump.
"É óbvio que ela memorizou as coisas", disse Lillian Glass, também especialista em linguagem corporal e comunicação, que disse achar que Kamala não foi autêntica. "Ela fala em staccato."
PROVOCANDO TRUMP
O estilo agressivo de Trump já o ajudou e o prejudicou em seus debates. Seus ataques pessoais durante as primárias republicanas de 2016 e na campanha contra Hillary Clinton o impulsionaram à indicação e à presidência.
Mas um debate em 2020 contra o então vice-presidente Biden, durante o qual Trump o interrompeu repetidamente, saiu pela culatra, afastando espectadores exaustos.
Trump adotou uma abordagem mais disciplinada em seu debate de junho com o presidente Biden, 81, cujos vários tropeços exacerbaram as preocupações dos democratas com sua idade e estimularam sua saída da corrida presidencial.
Na noite de terça-feira, Trump limitou seus ataques pessoais a Kamala, visando principalmente as políticas dela. Mas ele continuou os ataques contra Biden, o que levou Kamala a enfatizar que ela agora era sua adversária.
"Você não está concorrendo contra Joe Biden, está concorrendo contra mim", disse Kamala.
A vice-presidente tentou várias vezes provocar Trump. Ela abordou os comícios, uma questão delicada para o ex-apresentador de reality show, e Trump mordeu a isca, sugerindo falsamente que ela estava pagando pessoas para participarem de seus eventos políticos.
"Ela está claramente querendo irritá-lo. Ele não consegue se controlar. Ele não consegue se controlar. É possível ver quando ela lança alguma coisa e ele simplesmente a agarra e fica totalmente descontrolado em relação a questões ridículas", disse Adrianne Shropshire, diretora-executiva do BlackPAC, um comitê de ação política de esquerda que se concentra na mobilização e no engajamento de eleitores negros.
No final do debate, os dois candidatos, vestidos com ternos escuros e broches com a bandeira norte-americana, saíram do palco. Eles não se cumprimentaram novamente.
(Reportagem de Jeff Mason; Reportagem adicional de Allende Miglietta)