Por Antonio De la Jara
(Reuters) - Um juiz chileno condenou nesta sexta-feira o ex-comandante do Exército por cumplicidade nas mortes de 15 pessoas no início do regime militar de Augusto Pinochet.
Juan Emilio Cheyre, de 70 anos, foi condenado a cumprir três anos e um dia em prisão domiciliar após uma inquérito de um magistrado investigativo.
Cheyre é a autoridade de maior patente a ser responsabilizada por abusos cometidos depois que Pinochet depôs o ex-presidente Salvador Allende em um golpe militar em 1973.
Cheyre se tornou emblemático na transição nacional entre a ditadura e a democracia em 1990. Como comandante das Forças Armadas entre 2002 e 2006, ele foi o primeiro a pedir perdão pelos excessos dos militares no passado.
Mas seu mandato foi ofuscado por uma investigação sobre seu envolvimento no comitê militar conhecido como "Caravana da Morte", que atravessou o país nos meses que seguiram o golpe matando e ordenando o assassinato de esquerdistas.
A condenação de Cheyre segue as de mais de 1000 ex-agentes, soldados e colaboradores do regime de Pinochet por abusos de direitos humanos, apesar de uma reticência inicial de parte das autoridades em reabrir antigas feridas.
Pinochet morreu em 2006 sem nunca ter sido condenado por abusos de direitos humanos.
Mario Carroza, o juiz investigador apontado pelo tribunal de apelações do Chile para liderar a investigação, disse a jornalistas na sexta-feira que a condenação de um ex-comandante do Exército ilustra o sistema de justiça "igualitário" do qual o Chile desfruta atualmente.
"Foi uma investigação extensiva e complexa, sobretudo porque nós não tivemos a cooperação dos implicados no caso", disse.
Depois da deposição de Allende, Cheyre serviu como ajudante do comandante do regimento de Infantaria na cidade costeira de La Serena, 470 quilômetros ao norte de Santiago. Lá testemunhou os assassinatos de 15 pessoas cometidos por colegas oficiais sob ordens da Caravana, que chegou à cidade um mês após o golpe em setembro de 1973.
Ariosto Lapostol, o ex-comandante do regimento de Arica posicionado em La Serena, foi condenado nesta sexta-feira pelo mesmo tribunal a cumprir 15 anos de prisão por vários assassinatos.
Durante a ditadura de Pinochet, que durou entre 1973 e 1990, estima-se que 3200 pessoas foram assassinadas e outras 28 mil torturadas pelo Estado.