Por Steve Holland e Richard Cowan
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quinta-feira a líderes congressistas do partido Republicano que não sancionará um projeto para financiar despesas de governo que não preveja recursos suficientes para a segurança nas fronteiras, numa decisão que aumenta as chances de paralisação, já na próxima sexta-feira, de alguns setores do governo federal.
Trump anunciou sua decisão numa reunião a portas fechadas na Casa Branca com um grupo de líderes republicanos, que depois disseram a jornalistas que tentariam elaborar uma versão da lei que inclua os 5 bilhões de dólares que Trump exige para construir um muro na fronteira com o México.
“Queremos manter o governo funcionando, mas também queremos ver um acordo que proteja a fronteira”, disse o presidente da Câmara, Paul Ryan, depois de um encontro de mais de uma hora com Trump.
“O presidente nos informou que não vai assinar a lei que foi aprovada no Senado ontem à noite, por causa de suas legítimas preocupações com a segurança das fronteiras”, disse Ryan após retornar ao Congresso para trabalhar por uma emenda no orçamento aprovado pelo Senado.
Mais cedo nesta quinta, Trump se queixou no Twitter (NYSE:TWTR) que uma versão da legislação aprovada pelo Senado na véspera não previu os recursos para o muro, uma de suas principais promessas de campanha. Ele não havia chegado, porém, a ameaçar vetar a proposta, deixando esperanças de que uma paralisação não ocorreria.
Trump diz que o muro na fronteira é necessário para impedir a entrada de imigrantes ilegais e drogas, mas os democratas dizem que o muro não seria eficiente, além de um desperdício.
Sua ameaça de não sancionar a lei é a última reviravolta no longo drama sobre gastos do governo, e acontece apenas 36 horas antes de expirar o financiamento de agências responsáveis por atividades de manutenção da lei, segurança em aeroportos, exploração espacial e programas agropecuários.
Também ocorre enquanto os congressistas tentam terminar o trabalho antes do recesso de Natal. Esperava-se que Trump iniciaria duas semanas de férias na Florida nesta sexta-feira.
Os índices acionários dos EUA, que já estavam em forte queda, ampliaram as perdas com a possibilidade de uma paralisação, com o S&P 500 recuando mais de 2 por cento no dia.
Trump disse ver o muro na fronteira como uma vitória antes de sua campanha de reeleição em 2020. Na semana passada, num encontro com líderes parlamentares democratas, ele disse que ficaria "orgulho em fechar o governo por segurança na fronteira".
A lei aprovada pelo Senado na véspera prorroga por sete semanas os fundos existentes para as agências, deixando o assunto do financiamento para a próxima legislatura.
O deputado republicano Steve Scalise disse aos jornalistas que também tentará garantir recursos para estados atingidos recentemente por desastres naturais.
A líder democrata na Câmara, Nancy Pelosi, disse que a inclusão de recursos para o muro no projeto de lei seria um “empecilho” para os democratas, que no entanto estariam abertos a aprovar orçamento para desastres, segundo ela.
Parlamentares mais conservadores pediram a Trump para pressionar agora por recursos para o muro, argumentando que seria impossível fazê-lo depois que os Democratas assumam o controle da Câmara, em 3 de janeiro.
“Ele (Trump) fez campanha sobre o muro”, disse o deputado republicano Mark Meadows. “Foi o centro da campanha dele... a paciência do povo americano está se esgotando.”
Enquanto isso, membros do governo Trump buscam por maneiras de construir o muro remanejando recursos já disponibilizados às agências para outros projetos.
A Casa Branca não deu detalhes sobre a tentativa, mas políticos democratas alertaram que para movimentar recursos dessa maneira seria preciso aprovação do Congresso.
(Reportagem de Richard Cowan, Steve Holland e Ginger Gibson; reportagem adicional de Lisa Lambert e Susan Heavey)