Por Joseph Ax, Nathan Layne e Helen Coster
19 Jul (Reuters) - Donald Trump aceitou a indicação presidencial republicana com um discurso que começou com um apelo à unidade nacional antes de entrar em sua mistura familiar de queixas, retórica bombástica e avisos apocalípticos sobre o destino dos Estados Unidos se ele não for reconduzido à Casa Branca.
A coroação de Trump diante de uma plateia eufórica na quinta-feira contrastou com a turbulência que agita a campanha do presidente norte-americano, Joe Biden, seu oponente na eleição de 5 de novembro, que estava "fazendo um exame de consciência" sobre a possibilidade de abandonar sua candidatura à reeleição sob pressão dos colegas democratas, disse uma fonte.
Ao discursar na convenção nacional de seu partido, em Milwaukee, Trump fez um relato dramático do atentado contra sua vida em um comício na Pensilvânia há cinco dias, descrevendo como levou a mão à orelha depois de ouvir uma bala passando e viu sangue.
Quando ele disse à multidão que "não deveria estar aqui", os delegados gritaram: "Sim, você está!"
Com fotos de Trump ensanguentado projetadas atrás dele, o republicano elogiou os agentes do Serviço Secreto que correram ao seu lado.
Trump adotou um tom excepcionalmente conciliatório durante os momentos iniciais do discurso.
"Estou concorrendo para ser presidente de todos os Estados Unidos, não da metade dos Estados Unidos", disse ele, uma mudança marcante no tom do ex-presidente tipicamente belicoso.
Mas ele rapidamente abandonou a mensagem de unidade que havia prometido após o atentado, voltando-se para ataques já conhecidos ao governo Biden.
Ele afirmou, sem provas, que suas acusações criminais fazem parte de uma conspiração democrata, previu que Biden daria início à "Terceira Guerra Mundial" e descreveu o que chamou de "invasão" de imigrantes na fronteira sul.
O discurso sinuoso encerrou um evento de quatro dias durante o qual ele foi recebido com adulação por um partido que agora está quase inteiramente sob seu domínio.
Trump dedicou grande parte de seu discurso de 92 minutos a atacar os imigrantes, um tema que sempre animou suas campanhas.
"Eles estão vindo de prisões, estão vindo de cadeias, estão vindo de instituições mentais", disse ele, antes de citar pelo nome vários norte-americanos assassinados por suspeitos que estavam no país ilegalmente.
Não há evidências de que governos estrangeiros estejam enviando intencionalmente essas pessoas para os EUA. Estudos acadêmicos mostram que os imigrantes não cometem crimes a uma taxa mais alta do que os norte-americanos nativos.
O discurso quebrou o recorde de 2016 do próprio Trump como o mais longo proferido por um candidato, de acordo com o American Presidency Project da Universidade da Califórnia em Santa Barbara. Ele também teve o terceiro mais longo, em 2020.
A chefe da campanha de Biden, Jen O'Malley Dillon, disse em um comunicado que Trump "procurou encontrar problemas, não soluções".
Com Biden forçado a sair da campanha devido a um diagnóstico de Covid-19, Trump aproveitou os holofotes na quinta-feira como só o ex-astro de reality show poderia, emergindo de trás de uma tela em frente a um conjunto de holofotes soletrando seu nome.
Depois que Trump terminou, sua família e a de seu companheiro de chapa, o senador J.D. Vance, de 39 anos, dividiram o palco enquanto balões caíam do teto.
Com seu controle sobre o Partido Republicano mais forte do que nunca, Trump está em uma posição muito mais forte do que em seu mandato de 2017-2021 para dar continuidade à sua agenda caso vença a eleição.
Isolado em sua casa em Rehoboth Beach, Delaware, por causa da Covid, Biden enfrenta uma pressão cada vez maior dos líderes do partido para ceder sua posição no topo da chapa após um desempenho decepcionante no debate de 27 de junho. A ex-presidente da Câmara dos Deputados Nancy Pelosi está entre os que lhe disseram que ele não pode vencer em novembro, de acordo com uma fonte da Casa Branca familiarizada com o assunto.
Depois de semanas insistindo que permaneceria na disputa, Biden agora está levando a sério os apelos para se afastar, e várias autoridades democratas acham que uma saída é questão de tempo, disseram fontes.
O senador Jon Tester, que enfrenta uma desafiadora batalha pela reeleição em Montana este ano, tornou-se na quinta-feira o 21º democrata do Congresso a pedir publicamente que Biden desista.
(Reportagem de Nathan Layne, Joseph Ax e Helen Coster em Milwaukee; reportagem adicional de Gram Slattery, Alexandra Ulmer, Tim Reid, Steve Holland, Jeff Mason, Nandita Bose, Kanishka Singh, Eric Beech e Rami Ayyub)