Por Daren Butler e Orhan Coskun
ISTAMBUL/ANCARA (Reuters) - A Turquia atacou forças curdas no nordeste da Síria pelo segundo dia nesta quinta-feira, forçando a fuga de dezenas de milhares de pessoas e matando dezenas, em um ataque transfronteiriço contra aliados dos Estados Unidos, colocando o establishment de Washington contra o presidente Donald Trump.
A ofensiva turca contra as Forças Democráticas Sírias (FDS), aliadas dos EUA, teve início dias após Trump retirar tropas norte-americanas e abre um dos maiores novos frontes em anos na guerra civil, que já está em seu oitavo ano.
Ao menos 23 combatentes das FDS, lideradas pelos curdos, e seis combatentes de grupo rebelde sírio apoiado pela Turquia foram mortos, afirmou o Observatório Sírio para Direitos Humanos, que monitora a guerra.
As FDS afirmaram que ataques aéreos turcos e fogo de artilharia também mataram 9 civis. Em uma aparente retaliação das forças lideradas pelos curdos, seis pessoas, incluindo um bebê de 9 meses, foram mortos por disparos de morteiro e foguetes em cidades fronteiriças turcas, segundo autoridades do sudeste da Turquia.
O Comitê Internacional de Resgate afirmou que 64 mil pessoas na Síria fugiram desde o início da campanha. As cidades de Ras al-Ain e Darbasiya, a cerca de 60 quilômetros ao leste, foram amplamente esvaziadas como resultado do ataque.
O Observatório afirmou que forças turcas tomaram dois vilarejos próximos a Ras al-Ain e cinco próximos à cidade de Tel Abyad. Um porta-voz das forças rebeldes sírias afirmou que as cidades foram cercadas após combatentes tomarem vilarejos ao redor delas.
O Ministério da Defesa da Turquia afirmou que 174 militantes foram mortos até o momento. Curdos afirmaram que eles eram parte da resistência ao ataque.
De acordo com uma autoridade sênior da segurança da Turquia, as Forças Armadas atacaram depósitos de armas e munições, posições de atiradores de elite, túneis e bases militares.
Caças realizaram operações 30 quilômetros dentro da Síria --um limite que, segundo o ministro das Relações Exteriores da Turquia, forças turcas não podem ultrapassar. Um jornalista da Reuters testemunhou explosões perto de Tel Abyad.
Trump, que enfrentou raras críticas de figuras sêniores de seu próprio Partido Republicano, que o acusam de abandonar aliados leais dos EUA, disse no Twitter que está conversando com "ambos os lados". Ele alertou Ancara que a Turquia será atingida financeiramente com força se "não obedecer as regras".
Ele disse que o ataque turco foi "uma ideia ruim" e que não endossa a ofensiva.
O presidente norte-americano disse ainda que mediar um acordo entre a Turquia e os curdos é uma das três opções disponíveis para os EUA após a ofensiva da Turquia no nordeste da Síria.
Após o Conselho de Segurança das Nações Unidas se reunir para discutir o confronto, a embaixadora dos EUA na ONU disse que a Turquia enfrentará "consequências" não especificadas se não cumprir sua promessa de proteger populações vulneráveis ou conter combatentes do Estado Islâmico.
As FDS têm sido os principais aliados de forças dos EUA em solo na batalha contra o Estado Islâmico desde 2014.