Por Andrew Osborn e Matthias Williams
KIEV (Reuters) - A Ucrânia começou a navegar em águas políticas desconhecidas nesta segunda-feira, quando resultados quase definitivos mostraram que um comediante sem experiência política e com propostas pouco detalhadas virou de ponta-cabeça o status quo ao vencer a eleição presidencial do país com uma grande vantagem.
A vitória enfática de Volodymyr Zelenskiy, de 41 anos, é um golpe duro no atual presidente, Petro Poroshenko, que tentou congregar os ucranianos se apresentando como um protetor contra a agressão russa e um defensor da identidade nacional.
Com 95 por cento das urnas apuradas, Zelenskiy tinha 73 por cento dos votos e Poroshenko pouco menos de 25 por cento, disse a comissão eleitoral central.
Zelenskiy, que interpreta um presidente fictício em uma série de televisão popular, está prestes a assumir a liderança de uma nação na linha de frente de um impasse ocidental com a Rússia, instaurado quando Moscou anexou a península da Crimeia e passou a apoiar uma insurgência pró-russa no leste da Ucrânia.
Declarando vitória na sede de sua campanha diante de apoiadores comovidos na noite de domingo, Zelenskiy prometeu não decepcionar o povo ucraniano.
"Ainda não sou o presidente oficialmente, mas como cidadão da Ucrânia, posso dizer a todos os países da antiga União Soviética: olhem para nós. Tudo é possível!"
Zelenskiy, cujo triunfo se encaixa no padrão de figuras anti-establishment destronando presidentes, prometeu encerrar a guerra na região de Donbass, no leste, e extirpar a corrupção em meio à consternação com os preços em ascensão e a decadência da qualidade de vida.
Mas ele falou pouco sobre como planeja conseguir tudo isso, e investidores querem garantias de que ele intensificará reformas necessárias para atrair investimentos estrangeiros e manter o país em um programa do Fundo Monetário Internacional (FMI).
"Como existe uma incerteza completa sobre a política econômica da pessoa que se tornará presidente, simplesmente não sabemos o que acontecerá, e isso preocupa a comunidade financeira", disse Serhiy Fursa, banqueiro de investimentos da Dragon Capital de Kiev.
Os Estados Unidos, a União Europeia e a Rússia acompanharão atentamente os pronunciamentos de Zelenskiy sobre sua política externa para ver se e como ele pode tentar acabar com a guerra contra separatistas pró-Moscou, que já matou cerca de 13 mil pessoas.
(Reportagem adicional de Pavel Polityuk, Natalia Zinets, Andrei Makhovsky e Polina Ivanova em Kiev, Steve Holland em Washington e Foo Yun Chee em Bruxelas)