Por Peter Graff
KIEV (Reuters) - A Ucrânia anunciou nesta quinta-feira que iria começar a retirar a artilharia da linha de frente do confronto com rebeldes separatistas, no leste do país, um movimento que equivale a reconhecer que o cessar-fogo em vigor desde 15 de fevereiro está sendo mantido.
Os rebeldes pró-Rússia começaram há dois dias a retirar as armas pesadas, mas o governo ucraniano estava relutante, argumentando que os combates ainda não haviam cessado.
No entanto, o Exército não relatou baixas em enfrentamentos no fronte pelo segundo dia consecutivo nesta quinta-feira, na primeira vez em que não houve morte de soldados desde que começou a ser implementada a trégua mediada pela França e Alemanha.
A retirada de artilharia é o "item número 2" do acordo de paz firmado em 12 de fevereiro na capital de Belarus, Minsk, ou seja, isso equivale ao reconhecimento de que o primeiro tópico - o próprio cessar-fogo - está sendo observado.
"Hoje a Ucrânia começou a retirada das armas de 100 milímetros da linha de confronto", disseram os militares em um comunicado, assinalando que a etapa seria monitorada pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa.
"O lado ucraniano exige um cessar-fogo total e a imediata implementação do acordo de Minsk por todos os signatários. Em caso de qualquer tentativa ofensiva, o cronograma de retirada pode ser revisto", disse o comunicado militar.
"As forças ucranianas estão totalmente preparadas para defender o país."
Jornalistas da Reuters em Donetsk, cidade sob controle rebelde, disseram não ter ouvido nenhum disparo de artilharia durante a noite.
Os separatistas inicialmente ignoraram a trégua na semana passada para empreender um avanço que resultou em uma das maiores batalhas de uma guerra com saldo de mais de 5.600 mortos.
Mas, desde a captura da cidade estratégica de Debaltseve – entroncamento ferroviário no qual, segundo os rebeldes, a trégua não se aplicava -, eles têm se esforçado para enfatizar que agora pretendem cumpri-la.
Os países ocidentais condenaram os rebeldes e o presidente russo, Vladimir Putin – a quem acusam de apoiar os separatistas –, pelo avanço em Debaltseve após a trégua entrar em vigor. Mas depois disso eles vêm mantendo a esperança de que o cessar-fogo seja respeitado, já que os rebeldes têm agido nesse sentido.
Nos dias após suas tropas serem expulsas de Debaltseve, o governo ucraniano afirmou acreditar que os rebeldes estavam reforçando suas unidades para outro avanço e expressaram principalmente o temor de um ataque à cidade portuária de Mariupol, com 500.000 habitantes.
Os países ocidentais vêm ameaçando impor novas sanções econômicas a Moscou se os rebeldes avançarem ainda mais no território que o governo russo chama de "Nova Rússia".
Moscou, que nega auxiliar os separatistas na Ucrânia, disse nesta quinta-feira que as ameaças de mais sanções são uma desculpa para os esforços ocidentais de minar a trégua.
"É uma tentativa de distrair a atenção da necessidade de cumprir as condições dos contratos de Minsk", disse o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov.
(Reportagem adicional de Natalia Zinets e Pavel Polityuk em Kiev e Maria Tsvetkova em Donetsk)