Por Mayela Armas e Luc Cohen
CARACAS (Reuters) - O partido socialista da Venezuela instalará na terça-feira um Congresso controlado por aliados do presidente Nicolás Maduro, uma mudança de controle que muitos países ocidentais têm atacado como resultado de uma eleição fraudulenta.
A oposição do país, liderada por Juan Guaidó, que é presidente do Parlamento desde 2019, terá um comitê de legisladores com o objetivo de rivalizar com a Assembleia Nacional, controlada pelos socialistas, depois que a oposição boicotou as eleições legislativas de 6 de dezembro.
Mas a mudança no Poder Legislativo marca uma consolidação adicional de poder para Maduro, que no início de 2019 parecia vulnerável quando os Estados Unidos e dezenas de outros países reconheceram Guaidó como o líder legítimo da Venezuela, argumentando que Maduro era um ditador corrupto que levou o país a um colapso econômico.
A nova conjuntura também equivale ao fim simbólico da luta de cinco anos da oposição para enfraquecer Maduro após obter uma vitória esmagadora em 2015 nas eleições parlamentares, mesmo que a mudança signifique pouco em termos concretos para Maduro ou seus adversários.
O controle do Parlamento dará aos governistas socialistas pouca capacidade de melhorar uma economia debilitada e cercada por sanções. E os aliados de Maduro na Suprema Corte do país já há anos têm neutralizado a legislatura da oposição, derrubando todas as suas medidas.
O governo do presidente norte-americano, Donald Trump, reconheceu a prorrogação de um ano no mandato do Congresso controlado pela oposição, mas outros apoiadores internacionais de Guaidó, incluindo a União Europeia, ainda não concordaram que a oposição controla o Parlamento por direito.
A medida também gerou rachas na coalizão de Guaidó, e um grande partido da oposição se absteve de votar na extensão e vários parlamentares anunciaram individualmente que deixariam de servir como legisladores depois de 5 de janeiro.
A iminente posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, em 20 de janeiro, depois de anos de escalada das sanções norte-americanas e pressão diplomática sobre Maduro sob Trump, representa outra incerteza para Guaidó.
Biden tem rotulado Maduro de ditador e disse que trabalharia com outros países para buscar eleições livres e justas na Venezuela, mas não apresentou detalhes das políticas que planeja implementar para a nação rica em petróleo.
Um representante da equipe de Biden não respondeu imediatamente na segunda-feira quando questionado se seu governo continuaria reconhecendo Guaidó como chefe do Parlamento.
"Uma parte importante da oposição adotou a visão extremista que foi imposta por Washington durante a era Trump", disse Maduro em uma entrevista à televisão em 1º de janeiro. "A era Trump está terminando. Veremos como essa parte da oposição reage."
Maduro, que mantém o apoio das Forças Armadas e aliados como Cuba, Rússia e Irã, nos últimos anos impediu legisladores da oposição de se reunirem na sede do Congresso e empurrou dezenas de legisladores para o exílio.
Mas Guaidó prometeu continuar. Ele quer uma "ofensiva diplomática" para garantir que o maior número possível de países se recuse a reconhecer a legitimidade do Congresso controlado pelos socialistas e convocou seus apoiadores a tomarem as ruas.
(Por Mayela Armas e Luc Cohen em Caracas; Reportagem adicional de Jarrett Renshaw em Wilmington)