Por Brian Ellsworth
PACARAIMA, Roraima (Reuters) - Funcionário do governo da Venezuela, José Lara usou alguns dias de férias este mês para fazer uma longa viagem de ônibus pelos planaltos verdejantes e as savanas extensas do sul de seu país – mas a jornada era tudo, menos um passeio.
Foi uma corrida às compras de 36 horas. Lara pegou um ônibus noturno e depois uma picape para atravessar a fronteira com o vizinho Brasil para adquirir gêneros básicos que se tornaram escassos na economia em crise da Venezuela.
"Os trabalhadores nem podem mais aproveitar as férias. Olhe onde estou! Comprando comida para meus filhos", disse Lara, de 40 anos, que se preparava para colocar pacotes de 30 quilos de arroz e farinha em um ônibus para terminar a jornada, que leva quase 36 horas.
Os venezuelanos que tentam escapar das anomalias da economia estão indo em grandes levas à remota Pacaraima, cidade do nordeste do Estado de Roraima, em busca de itens básicos que são proibitivamente caros em sua nação ou só estão disponíveis para quem enfrenta horas de filas.
Os consumidores frequentam Pacaraima há meses, sobretudo aqueles oriundos da cidade industrial de Puerto Ordaz – mesmo neste caso uma viagem de 12 horas de ônibus –, mas ultimamente também têm vindo de regiões ainda mais afastadas do território venezuelano.
Os venezuelanos passam horas nas filas dos supermercados, e muitos se queixam cada vez mais por não conseguirem alimento suficiente para fazer três refeições por dia.