Por Gustavo Bonato
RIBEIRÃO PRETO (Reuters) - O aperto de crédito para o setor agrícola e as incertezas sobre as condições de negócios este ano estão atrasando as vendas de fertilizantes no Brasil, o que poderá gerar acúmulo de entregas e problemas logísticos no segundo semestre, disseram executivos do setor na Agrishow, a principal feira de negócios da agropecuária do Brasil.
Entre janeiro e março, as entregas de fertilizantes aos produtores já recuaram 5 por cento na comparação com o mesmo período de 2014, segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).
Para piorar, o fechamento de negócios está bem mais atrasado que as entregas propriamente ditas, na avaliação da Yara, maior empresa de fertilizantes do Brasil, com 25 por cento do mercado.
"Quando a gente leva isso para a realização de negócios, a gente estima que esse número (defasagem) seja muito maior. O 'gap' em relação ao ano passado é muito maior", disse à Reuters o presidente da Yara no Brasil, Lair Hanzen, em entrevista em Ribeirão Preto, sede da Agrishow.
Ele destacou que não há estatísticas oficiais sobre os negócios fechados, mas a empresa estima que a carteira de pedidos do setor esteja menor.
"Ao invés de você ter três ou quatro meses já vendidos, você trabalha com dois, ou um (mês)", disse o diretor comercial da Yara, Cleiton Vargas, citando que essa é uma situação do mercado brasileiro, enfrentada na mesma proporção pela Yara.
O novo Plano Safra 2015/16 ainda será anunciado, com linhas de financiamentos para o próximo plantio de grãos no país, mas os juros praticados atualmente pelos principais bancos já subiram na comparação com os 6,5 por cento da média ofertada no Plano Safra 2014/15.
O plano para 2015/16, a ser divulgado em 19 de maio, terá juros médios mais altos, indicou na segunda-feira a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, na esteira do aumento dos custos dos financiamentos, com a taxa referencial (Selic) e a inflação em níveis mais elevados.
Além disso, os preços dos grãos no mercado internacional estão mais baixos que em temporadas anteriores, sem contar a volatilidade do câmbio, que exige mais cautela no fechamento de compras de insumos importados, como é o caso dos fertilizantes.
QUEDA NO ANO?
A situação também gera questionamentos sobre o volume de fertilizante que comercializado no Brasil este ano. A safra 2015/16 começa a ser plantada a partir do fim de setembro, mas os preparativos começam já em meados do ano.
"Algumas consultorias estão estimando um número um pouco menor do que 2014, mas a Anda não faz previsões", disse o presidente da entidade, David Roquetti Filho.
Para a Yara, ainda não está claro se o uso de fertilizantes será igual ou ligeiramente menor que em 2014.
"A gente acredita que o mercado deve acontecer. As principais culturas estão indo bem. Se você acreditar que o mercado vai ser igual ou não muito menor, e se ele está atrasado, ele vai concentrar no segundo semestre", estimou Hanzen.
Segundo os executivos, os últimos anos registraram uma tendência de antecipação das entregas de parte dos fertilizantes para o primeiro semestre, em meio à boa disponibilidade de recursos para a aquisição e como estratégia para evitar problemas logísticos.
Em 2014, por exemplo, mais de 40 por cento das entregas de fertilizantes ocorreram nos seis primeiros meses do ano.
"Há uma tendência de volta ao padrão de 35 por cento (no primeiro semestre) e 65 por cento (no segundo)", disse Roquetti Filho.
Ele estimou que, com o atraso nas vendas, pode haver repetição de filas de navios para entrega de fertilizantes nos portos, com pagamento de multas por demora no descarregamento, em um custo extra que acabaria sendo repassado aos produtores.