Por Emma Farge
GENEBRA (Reuters) - Autoridades do Irã cometeram violações nos últimos meses que podem equivaler a crimes contra humanidade, disse um especialista nomeado pela ONU ao Conselho de Direitos Humanos nesta segunda-feira, citando casos de assassinato, prisão, desaparecimento forçado, tortura, estupro, violência sexual e perseguição.
O Irã foi varrido por protestos desde a morte de uma jovem curda iraniana, Mahsa Amini, sob custódia policial em setembro passado.
Dirigindo-se ao conselho com sede em Genebra, Javaid Rehman, relator especial sobre o Irã, disse ter evidências de que Amini morreu "como resultado de espancamentos da polícia estatal da moral". O legista do Irã afirmou que ela morreu de condições médicas preexistentes, não de golpes na cabeça e nos membros.
Rehman, um especialista independente, acrescentou que a escala e a gravidade dos crimes cometidos pelas autoridades como parte da repressão após a morte da jovem "apontam para a possível prática de crimes internacionais, notadamente os crimes contra humanidade".
O embaixador do Irã, Ali Bahreini, disse ao órgão que as alegações são imaginárias e que o Irã estava sendo alvo no conselho. "Eles tentam retratar suas imaginações como a realidade da situação no Irã", declarou ele.
Cerca de 527 pessoas foram mortas nos protestos, sendo 71 crianças, continuou Rehman, incluindo algumas que foram espancadas até a morte pelas forças de segurança. Mulheres e meninas foram alvejadas com tiros em seus rostos, seios e órgãos genitais, acrescentou ele, citando médicos iranianos.
"As crianças libertadas descreveram abusos sexuais, ameaças de estupro, surras, administração de choques elétricos e como suas cabeças foram mantidas debaixo d'água, e como foram suspensas pelos braços ou lenços enrolados em seus pescoços", disse Rehman em seu discurso.