Por Daniel Trotta
HAVANA (Reuters) - O papa Francisco viaja para Cuba no sábado para uma visita de três dias que é vista como um possível ganho de relações públicas para Havana, mas também traz embutido o risco de que o pontífice possa falar mais abertamente sobre democracia e direitos humanos do que o governo comunista gostaria.
Na primeira visita papal a Cuba, em 1998, João Paulo 2º fez comentários incisivos sobre os chamados ‘prisioneiros de consciência' –opositores do regime levados à prisão– , dizendo que eles sofrem "um isolamento e uma penalidade" por simplesmente quererem "se manifestar com respeito e tolerância".
O papa Bento 16 fez comentários bem mais amenos sobre os prisioneiros em geral em 2012.
Desta vez, o governo da ilha vai saudar qualquer crítica do pontífice ao embargo comercial dos Estados Unidos a Cuba, mas não condenações equivalentes ao sistema político de partido único da ilha, que reprime adversários políticos e monopoliza a mídia.
"Esse é um papa que até agora não tem hesitado em falar a verdade aos poderosos em qualquer uma de suas jornadas apostólicas. Ele tem enfatizado os direitos humanos onde quer que vá. Estou confiante de que fará o mesmo em Cuba", disse Jean-Pierre Ruiz, professor de teologia da Universidade St. John, de Nova York.
Cuba é sensível às críticas ao seu histórico de direitos humanos, e afirma que precisa refrear os críticos que diz serem mercenários determinados a desestabilizar o governo. Muitos dissidentes cubanos recebem financiamento de organizações sediadas nos EUA, e ativistas são detidos de forma rotineira pela polícia de Cuba por fazerem manifestações.
Em um aceno ao papa, Cuba libertou 3.522 presidiários na semana passada, mas eles não incluem qualquer um dos 60 prisioneiros políticos listados pela organização dissidente Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional.
Uma especialista afirmou que o líder católico deve fazer uma reprimenda educada, falando em termos gerais.
"Não devemos esperar um catálogo dos erros de Cuba", disse Candida Moss, professora de teologia da Universidade Notre Dame. "Ele pode muito bem se concentrar nas ameaças globais aos direitos humanos, especialmente no Oriente Médio e na África, como maneira de evocar o proverbial elefante na loja de cristais".
(Reportagem adicional de Andrew Cawthorne)