Por Steven Grattan
(Reuters) - A vitória do presidente eleito da Argentina, o libertário Javier Milei, no fim de semana gerou reações divergentes ao redor do mundo -- que incluem hostilidade de alguns esquerdistas da América Latina, apoio cauteloso de outros e uma promessa da China de trabalhar com ele, apesar de seus comentários críticos.
Milei, que se autodescreve como um anarcocapitalista, canalizou a irritação dos eleitores com a profunda crise econômica e anos de disfunção econômica para vencer com folga o segundo turno do último domingo.
O ex-comentarista de televisão assumirá o poder no próximo mês, afastando decisivamente a Argentina do governo peronista de centro-esquerda do presidente Alberto Fernández.
Questionado nesta terça-feira, o presidente de esquerda do México, Andrés Manuel López Obrador, disse que respeitava o veredicto dos eleitores, mas acrescentou que acredita que a vitória de Milei não deve aliviar os problemas da Argentina.
“Isso é algo que não acho que ajudará”, disse López Obrador a repórteres. Ele posteriormente usou um termo de futebol para descrever a vitória do outsider: “Foi um gol contra”.
O ex-presidente de esquerda da Bolívia Evo Morales, aliado próximo de governos peronistas do passado em Buenos Aires, foi às redes sociais na terça-feira afirmar que nunca “desejaria sucesso ao fascismo, ao ultraconservadorismo e ao neoliberalismo”.
Líderes de esquerda de Venezuela e Colômbia também lamentaram o resultado da eleição de domingo. O presidente colombiano Gustavo Petro o descreveu como “triste para a América Latina” em uma publicação na rede social X.
Mas outros líderes de esquerda latino-americanos expressaram mais apoio. O presidente chileno, Gabriel Boric, desejou o melhor para Milei e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desejou "êxito" ao novo governo.
A declaração de Lula foi dada depois dos duros ataques de Milei ao brasileiro durante a campanha, onde a certa altura Milei rotulou Lula de “comunista raivoso” e corrupto.
“Democracia é a voz do povo e sempre precisa ser respeitada”, disse Lula, pelas redes sociais, no domingo. Mas na segunda-feira, o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, disse que Milei deveria ligar para Lula e se desculpar por ofensas.
O presidente russo, Vladimir Putin, deu os parabéns para Milei, praticamente ignorando seu apoio no passado à Ucrânia em sua guerra contra Moscou, e também indicativos de que a Argentina não se juntará ao grupo Brics, apoiado pela Rússia, durante o mandato de Milei.
Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China disse que o governo chinês estava pronto para trabalhar com a Argentina para “manter relações em uma trajetória estável”, apesar de comentários críticos da equipe de Milei durante a campanha.
Milei encontrou apoiou entusiasmado entre populistas de direita, como o ex-presidente norte-americano, Donald Trump, e o ex-presidente Jair Bolsonaro, derrotado por Lula ano passado por uma margem pequena.
(Reportagem de Steven Grattan em São Paulo)