Por Andreas Rinke e Eduardo Baptista
PEQUIM (Reuters) - O presidente chinês, Xi Jinping, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, condenaram nesta sexta-feira as ameaças de uso de armas nucleares na Ucrânia, com Scholz alertando que a Rússia corre o risco de "cruzar uma linha" na comunidade internacional ao recorrer à força nuclear.
Na primeira visita de um líder do G7 à China desde a pandemia, Scholz pressionou Xi a convencer a Rússia a acabar com a guerra na Ucrânia, dizendo que Pequim tem a responsabilidade como grande potência de fazê-lo.
Xi concordou que ambos os líderes "se opõem conjuntamente ao uso ou ameaça de uso de armas nucleares", de acordo com divulgação da agência de notícias estatal Xinhua, embora tenha evitado criticar a Rússia ou pedir a Moscou que retire suas tropas.
A visita de um dia de Scholz está testando as águas entre a China e o Ocidente após anos de tensões crescentes, dizem analistas, com discussões sobre a guerra da Rússia contra a Ucrânia, mudanças climáticas, acesso recíproco ao mercado e vacinas da Covid-19.
Scholz realizou a visita enquanto enfrenta críticas de dentro de sua própria coalizão sobre as relações com Pequim e tenta equilibrar a garantia de igualdade de condições para as empresas europeias com a eliminação da forte dependência da Alemanha no mercado chinês.
Durante o almoço com Scholz, Xi enfatizou que é fácil destruir a confiança política, mas difícil reconstruí-la e ambos os lados precisam cuidar disso, de acordo a agência estatal Xinhua News.
Xi também disse a Scholz que a China e a Alemanha devem respeitar uma à outra e cuidar dos interesses fundamentais uma da outra, segundo a Xinhua.
Mais cedo, ao cumprimentar Scholz no Grande Salão do Povo, no coração de Pequim, Xi pediu para que os dois países trabalhassem mais de perto em questões internacionais.
"O presidente Xi e eu concordamos: as ameaças nucleares são irresponsáveis e incendiárias", disse Scholz após a reunião. "Ao usar armas nucleares, a Rússia estaria cruzando uma linha que a comunidade de Estados traçou conjuntamente."
Os aliados ocidentais da Ucrânia acusaram a Rússia de ameaçar usar armas nucleares no país. Moscou nega e tem acusado repetidamente Kiev de planejar usar uma "bomba suja" radioativa sem oferecer provas.
"Como países grandes e influentes, em tempos de mudança e turbulência, a China e a Alemanha devem trabalhar ainda mais juntas, para fazer mais contribuições para a paz e o desenvolvimento mundial", afirmou Xi, segundo a emissora estatal CCTV.
Antes da reunião no almoço, Scholz disse a Xi que é bom que ambos os líderes se encontrem pessoalmente em tempos de tensão, e que a invasão da Ucrânia pela Rússia está criando problemas para a ordem global baseada em regras, de acordo com uma gravação das observações fornecidas pela delegação alemã.
Durante uma entrevista coletiva após discussão com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, Scholz disse que levantou a questão de Taiwan. A China reivindica a ilha como seu próprio território e nunca renunciou ao uso da força para colocá-la sob seu controle.
"Como os EUA e outros países, estamos buscando uma política de uma só China. Mas deixei igualmente claro que qualquer mudança no status quo de Taiwan deve ser pacífica ou por consentimento mútuo", disse ele.
A visita de Scholz deve ser um desenvolvimento bem-vindo para a liderança chinesa, que buscará fortalecer as relações com o mundo exterior.
(Reportagem de Andreas Rinke e Eduardo Baptista)