Em mais de 15 anos como consultora independente, raramente vi uma humilhação tão completa. O setor imobiliário, que foi o "patinho feio" da bolsa por anos, não só disparou 46% no primeiro semestre como esmagou o Ibovespa (míseros 13%) e se tornou o campeão absoluto de 2025. A pergunta que não quer calar: ainda dá tempo de entrar na festa?
Vou ser direta: detesto setores cíclicos.
Prefiro mil vezes elétricas, saneamento e bancos - setores perenes que não dependem de humor de mercado para funcionar. Mas quando um setor humilha o índice principal dessa forma, preciso analisar.
Por que o IMOB massacrou o mercado
Enquanto o Ibovespa patinava em 13%, o Índice Imobiliário destronou todos os setores com 46% de alta. Três fatores explicam essa dominação absoluta: estabilização da curva de juros longa, percepção de que o pior da inflação passou, e forte defasagem de preços - muitas ações ainda negociam abaixo do valor patrimonial.
O problema dos cíclicos:
Setores como imobiliário são reféns de juros, crescimento econômico, crédito e políticas governamentais. Quando tudo alinha, explodem. Quando desalinha, despencam. É essa montanha-russa que não me agrada.
Mas há uma lógica na liderança:
Após anos de punição, o setor estava subprecificado. Com a Selic mantida em altos patamares e inflação (dizem) controlada, o dinheiro migrou para ativos de risco com potencial de recuperação. O resultado? Uma performance que humilhou até os mais otimistas.
Minha análise técnica:
Ainda pode ter espaço, mas com seletividade extrema. Para quem insiste em apostar no atual campeão:
1. Cyrela (BVMF:CYRE3): Líder em vendas, balanço saneado
2. Multiplan (BVMF:MULT3): Shoppings premium, dividendos consistentes
3. MRV Engenharia (BVMF:MRVE3): Habitação popular, demanda estrutural
Mas lembre-se: quando a festa acabar, são as ações cíclicas que despencam primeiro.
Podem me chamar de investidora jurássica, mas até hoje nenhum setor cíclico venceu, no longo prazo, a consistência dos setores perenes. Enquanto o imobiliário faz montanha-russa, utilities (elétricas e saneamento), bancos e seguradoras entregam dividendos consistentes há décadas. Os setores defensivos têm performance histórica mais resiliente, especialmente durante crises.
Eu fico com meus setores perenes e defensivos. Entregam performance consistente, pagam dividendos e não me dão dor de cabeça. Que o IMOB continue sua festa – eu prefiro ver de longe.