Uma vez mais o mercado futuro de açúcar em NY devolveu praticamente tudo o que havia recuperado na semana anterior e encerrou a sexta-feira com o vencimento outubro/22 cotado a 18.03 centavos de dólar por libra-peso, cravando uma queda de 57 pontos no acumulado da semana, equivalente a 12.50 dólares por tonelada.
Os contratos futuros com vencimentos seguintes também mostraram desvalorização em torno de 60 pontos (13.50 dólares por tonelada) refletindo o total desânimo das usinas em relação ao preço do etanol, que motivou uma maior pressão na venda de açúcar.
A conjuntura mudou de maneira tão brusca e incomum trazendo enormes prejuízos às usinas após as mudanças na tributação dos combustíveis. Os orçamentos das empresas ostentavam preços médios estimados de venda do etanol para este segundo semestre em torno de R$ 4,0000 por litro e agora essas estimativas estão abaixo de R$ 3,0000, uma redução inesperada de 25% da receita, afetando a capacidade de investimento (pela redução do fluxo de caixa) e a mudança urgente, onde fosse possível, do mix de etanol para a produção de mais açúcar. Governo liberal é outra coisa.
O etanol, cujo desempenho este ano era aguardado pelas usinas como o “salvador da lavoura”, em contraponto ao açúcar de exportação cuja fixação já estava bem adiantada havia tempos, azedou o humor das empresas. A queda de receita posterga planos de expansão, de renovação, de investimentos diversos dentro das usinas, de menor distribuição de dividendos e bônus para os executivos. Cada uma tem sua história triste para contar.
Considerando que o Centro-Sul já moeu mais da metade da cana desta safra, uma parte significativa do planejamento precisa ser revisto dada a queda brutal do etanol no mercado. A queda foi potencializada pelo represamento de novos negócios logo após as mudanças tributárias e – evidentemente – do colapso nos preços dos combustíveis. O preço do barril do petróleo caiu abaixo do nível anterior ao conflito Rússia-Ucrânia, o que demonstra que o mercado subiu apenas em função do pânico e que a disponibilidade de petróleo no mundo vai muito bem. Era óbvio, mas o racional sai de férias em situações de guerra.
O fato é que o mercado vai ter que ajustar em algum momento. Nossa visão é que isso só vai ocorrer depois de decidida a eleição para presidente. As usinas que mantinham etanol nos tanques não devem escoar o produto. A B3 (BVMF:B3SA3) negocia etanol para o primeiro trimestre de 2023 a R$ 2,860 por litro. Trazendo a valor presente, isso dá açúcar em NY a 16 centavos de dólar por libra-peso, ou seja, mais de 200 pontos de desconto. Não parece fazer sentido, pois está abaixo do custo de produção.
É claro que os mercados podem cair mais, pois sempre há exagero na alta ou na queda quando eles são afetados pelo pânico. Mas, se o açúcar em NY vier abaixo de 17 centavos de dólar por libra-peso, quais são as chances reais de ele se manter nesse nível por muito tempo? Como a Índia conseguiria exportar sem subsídio nesse nível? E a Tailândia? Mesmo o Brasil, tomando o custo de produção feito na ponta do lápis por usinas de primeira linha, considerando depreciação, amortização e custo financeiro, chega a 17 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos. Em algum momento vai ter que haver uma readequação dos preços.
Por outro lado, o preço do gás natural no mercado internacional subiu mais de 6% esta semana. No acumulado do mês chega a 13% e no acumulado do ano perto dos 150%. Imaginem o impacto que essa subida deverá ter no custo de produção do açúcar de beterraba na Europa. Enquanto isso, as refinarias do Oriente Médio e Norte da África se adiantam e compram açúcar bruto do Brasil e Índia para se antecipar ao provável fortalecimento do prêmio de branco. A demanda por açúcar bruto no físico deve provocar prêmios mais altos para embarques próximos. E as refinarias naquelas regiões querem aproveitar esses preços o mais rápido possível.
Os fundos não-indexados reduziram suas posições vendidas em 40,000 contratos. Não é atoa que vimos os preços do açúcar em NY subirem no período de terça a terça. Não eram fundamentos escondidos, mas os fundos saindo da posição. Agora eles estão vendidos apenas 23,000 lotes, ou seja, o mercado poderá oscilar menos, mas antes a pergunta: em que nível será que NY vai se estabilizar?
Como importante oposição aos baixistas, há de se lembrar que a safra do Centro-Sul caminha para um total de moagem próximo de 527-530 milhões de toneladas. Número menor do que aquele previsto no início da moagem.
Acreditamos que a estagnação da produção brasileira de ATR desde 2009/2010 em vista da possibilidade – ainda pequena, é verdade – da recuperação da economia global, do restabelecimento consumo de açúcar mundial (capitaneado pela Ásia) e do represamento do consumo Ciclo Otto no Brasil que antes da pandemia crescia a 3.8% ao ano, o Brasil não terá cana suficiente para atender a esse possível incremento de consumo interno e externo na safra 2024/25 em diante. É difícil ser baixista no longo prazo.