Concorrência para XP
Uma notícia que repercutiu bastante ontem foi o anúncio de que um dos maiores escritórios de agentes autônomos da XP, a EQI, está indo para o BTG (SA:BPAC11).
A EQI faz parte do G20, grupo dos 20 maiores escritórios associados à corretora.
As informações do site dizem que atualmente o escritório tem mais de 8 bilhões de reais sob custódia, 40.000 clientes e 300 assessores, espalhados por 7 estados no Brasil.
Quem acompanha de perto esse mundo das corretoras e assessores de investimento sabe que este movimento inaugura um marco para o setor.
A XP praticamente nadou de braçadas nesse mercado ao longo dos últimos anos.
O reflexo disso é que 90 por cento de todos os Agentes Autonomos de Investimento (AAI) do Brasil são afiliados da XP — até pouco tempo atrás, amarrados em contratos de exclusividade.
Dos 366 bilhões de ativos sob custódia da XP, 70 por cento são provenientes de clientes dos assessores.
No passado, a Faros (também do G20), chegou a ensaiar um voo solo, mas acabou fechando um acordo em troca de participação no equity da corretora.
Agora, com valores ao redor de 6 a 10 bilhões sob custódia, alguns dos escritórios voltam a cogitar montar sua própria estrutura, principalmente quando veem uma Xp Inc (NASDAQ:XP) sendo cotada a mais de 40 vezes lucro na bolsa.
Como forma de mitigar esse risco, um pouco antes do IPO, alguns dos principais escritórios também receberam ações da companhia.
Acontece que agora o BTG, bastante capitalizado após a oferta, está assediando dezenas de escritórios da concorrente com cheques bem gordos.
Bom, mas e aí? O que você tem a ver com isso?
Eu enxergo esse movimento de maior competição como algo bastante positivo, e quem tem a ganhar com isso somos nós, investidores.
Em qualquer mercado onde um player é muito dominante, quem paga o pato são os usuários.
Quando eu comecei no mercado, lá em 2005, para um cliente pessoa física operar na bolsa ele pagava corretagem tabela Bovespa.
A grosso modo, era 0,5 por cento na compra, e 0,5 cento na venda.
Caríssimo.
Quando surgiram as corretoras digitais e os home brokers passaram a cobrar corretagem fixa, dezenas de corretoras ultrapassadas simplesmente deixaram de existir.
Para atrair dinheiro dos bancos, as corretoras desse novo modelo passaram a não cobrar taxa de custódia sobre ações.
Por volta de 2010, passaram a isentar a taxa de custódia para o tesouro direto também.
Os bancos tiveram que correr atrás. Com bastante atraso, alguns mudaram para o modelo de corretagem fixa e também passaram isentar a taxa de custódia.
Como a diferença passou a não ser tão gritante, então apareceram as corretoras cobrando taxas de corretagem ínfimas, até que as isentaram também.
Depois disso, um diferencial passou a ser isentar a taxa de corretagem e de custódia para FIIs.
O próprio BTG Digital, como forma de tentar levar dinheiro dos bancos e da própria XP, passou a oferecer o Fundo Tesouro Selic Simples com taxa zero (mais barato e rentável do que investir diretamente do Tesouro Selic).
Por conta da plataforma de mais de 500 fundos de terceiros da XP, até o Itaú passou investir em distribuir fundos de terceiros no Personnalité.
Há alguns meses eu ouvi dizer que o banco já estava rodando um piloto do modelo de assessores dentro do próprio banco, para competir diretamente com a XP nesse mercado também.
No final do dia, a competição vai proporcionar uma melhora na oferta de serviços, taxas mais competitivas e, assim como em qualquer mercado, haverá uma seleção natural dos melhores.
A própria quarentena acabou trazendo uma mudança bastante importante para a transferência de custódia entre corretoras.
Até pouco tempo atrás, para um investidor migrar sua posição em ações de uma corretora para outra, era necessário que os documentos tivessem a firma reconhecida em cartório.
É ridículo pensar que é possível abrir uma conta em minutos, de forma 100 por cento digital, mas que para transferir a custódia de um ativo que é custodiado na mesma bolsa é preciso tanta burocracia.
Por conta disso, recentemente a CVM deliberou que o processo pode ser feito digitalmente (por mais que as corretoras ainda insistam em dificultar).
Alguns clientes da Nord relataram que, apesar da mudança, o processo está demorando mais do que os 30 dias de prazo.
Agora, imagina como essa notícia é uma mão na roda para EQI? Providenciar a assinatura com firma reconhecida de mais 40 mil clientes?
Muitos assessores nunca cogitaram em mudar de corretora pelo simples fato de que, operacionalmente, era impossível.
Nos bastidores ouve-se histórias sobre os que tentaram, foram "desligados", e perderam total acesso às contas dos clientes durante a migração.
Dos 8 bilhões de reais da EQI, mesmo que demore um pouco mais, tudo que estiver em ações, fundos imobiliários e renda fixa, vai ser moleza transferir para o BTG.
Já os que estiverem nos fundos Advisory… ah, esse montante vai ser mais difícil.
Como os fundos Advisory são um espelho exclusivo da XP, o cliente vai ser obrigado a resgatar se quiser mudar para o BTG.
Movimento já calculado pela XP há algum tempo, e que antecipei aqui para os nossos leitores.
Concorrência para o mercado é bom, mas no meu parquinho, não.