André Manuel López Obrador, conhecido como AMLO, conquistou a presidência do México neste último domingo com uma vitória avassaladora. Com o dobro de votos em relação ao segundo colocado, o fenômeno AMLO é mais um alerta para as mudanças em curso no ambiente político global.
López Obrador, um esquerdista nacionalista revolucionário, conseguiu emplacar a imagem de salvador da pátria perante ao povo, prometendo liderar a quarta transformação do México. A primeira foi a Independência (1812), a segunda grande transformação foi conhecida como Reforma (1858-1861) e a terceira foi a Revolução, ocorrida em 1910.
Os mexicanos demonstraram depositar nestas eleições excesso de fé e pouca razão na proposta audaciosa de López Obrador, mas o fato é que a população está desesperada por mudanças e procurou por um salvador. O novo presidente do México quer acabar com a predominância da centro-direita, que, apesar de protagonizar algumas reformas, se submeteu amplamente aos interesses privados, provocou aumento da desigualdade, não foi capaz de conter a onda de violência e, para piorar, protagonizou vários casos de corrupção (o que pode ter sido a gota d’agua para muitos eleitores).
O status quo foi quebrado de maneira brutal no México. Depois de 99 anos de domínio do PRI (Partido da Revolução Insitucional), interrompido apenas pelo PAN (Partido da Ação Nacional, também de centro-direita) entre 2000 a 2006, o fenômeno AMLO surge sobre as cinzas dos partidos tradicionais, que por sinal declararam derrota formalmente já nas pesquisas de boca de urna.
O resultado expressivo de López Obrador passa uma falsa imagem do potencial de sucesso de sua agenda de esquerda. O novo presidente do México triunfou porque os seus antecessores foram um desastre. Prova disso são os 133 políticos, militantes ou simpatizantes envolvidos nas eleições assassinados durante a campanha. Além do mais, Enrique Peña Nieto, atual presidente do México pelo PRI, termina seu mandato colecionando casos de corrupção, tanto pessoais, quanto de vários outros integrantes de sua base.
Peña Nieto afirmou em diversas ocasiões que o problema da corrupção no México é uma fraqueza de ordem cultural, evidenciando a falta de vontade (ou desculpa) para não combater os escândalos de corrupção que surgiam dentro de sua administração.
Corrupção e violência são dois fatores-chave que forçaram o eleitor mexicano buscar desesperadamente por um salvador da pátria. A população simplesmente não aguenta mais e escolheu uma figura desvinculada da política tradicional.
Quebras de status quo, como o ocorrido neste último domingo no México, já não são novidade num mundo de Trump, Brexit, entre outros. Inevitavelmente o Brasil parece ser o próximo desta lista, com viés para a esquerda.
A atual gestão centro-direita maquiada do governo Temer arruinou os fundamentos para uma mudança pró-mercado nos próximos anos. Os brasileiros não depositam confiança numa agenda ortodoxa, simplesmente porque Temer e sua equipe econômica levantaram esta bandeira e os resultados foram catastróficos: fiscal e desemprego muito elevados. O corajoso que se propor a defender, na campanha, o que deu errado nestes últimos anos não será eleito.
Não se resolve estes dois problemas (fiscal e desemprego) de uma só vez, pois não há gordura para ser queimada em nenhum lado. Os números não estão numa mediana, mas em zona vermelha. Se ao menos o desemprego estivesse em nível mais baixo, poderia haver brecha para um esforço de ajuste fiscal, com efeitos colaterais limitados, o que não é o caso. Portanto, muito possivelmente o próximo governo terá de escolher entre acertar as contas públicas ou criar empregos. Não é uma decisão difícil, diante da conjuntura atual. Resta apenas contar os dias para o endividamento ultrapassar a marca de 80% do PIB.