Quem vem acompanhando o mercado acionário brasileiro desde 2013 deve ter notado diferenças gritantes dos preços dos ativos de lá para cá, e não resta dúvida que dentre as ações que mais surpreenderam positivamente nesse meio foram as da Raia Drogasil (SA:RADL3), recentemente rebatizada “RD – Gente, Saúde e Bem-Estar”. Porém quem vem acompanhando a atual temporada de divulgação de balanços, referentes as operações do segundo trimestre de 2017, deve ter ficado negativamente surpreso com os resultados que a empresa demonstrou, mesmo diante de uma expectativa um tanto conservadora, para não chamar de negativa, por parte dos analistas do mercado.
Ao olhar os números passados da empresa era normal se espantar com a solidez que a empresa foi adquirindo com o desenrolar da crise econômica que o país passou nos últimos anos. O número de lojas distribuídas no Brasil mais que dobrou, passando de 700 para mais de 1500 pontos de venda, o lucro total em 2016 subiu mais de 30% em comparação com o lucro registrado em 2015, as vendas líquidas cresceram 27% alcançando no último ano a marca dos 11 bilhões de reais vendidos e com essas altas a relação de margem de lucro líquida da empresa cresceu também, mas em modestos 4%. O EBITDA registrado em 2016 foi de 987,6 milhões de reais, crescendo 32,6% em comparação com o ano de 2015. Desde 2011 a RD lidera o ranking de faturamento do setor e caminha para consolidar seu sexto ano no topo em 2017, seguida pela rede de Farmácias Pague Menos e Drogaria São Paulo.
O desempenho do papel na B3 se tornou um caso famoso, enquanto se observava uma verdadeira aventura para achar ativos que pudessem se mostrar resilientes a turbulência que as crises política e econômica trouxeram alguns se tornaram verdadeiros oásis no meio do deserto, onde os investidores poderiam deixar seu dinheiro sem a gigante insegurança que pairava no mercado. Ambev (SA:SA:ABEV3), Suzano (SA:SA:SUZB5), Fibria (SA:SA:FIBR3) e Embraer (SA:SA:EMBR3) se sobressaíram em indicações devido a alta exposição ao dólar, mas a RD emergiu como uma verdadeira “top pick” em meio ao caos sem ter uma grande exposição à moeda estrangeira, e sim pela sua estruturação eficiente, boas margens de liquidez, apesar que decrescentes, conquista de espaço no mercado através do, já citado, alto número de novas lojas pelo Brasil e também pelo seu lucro líquido que veio refletindo o bom momento da empresa, mais do que quadruplicando entre 2013 e 2016. O papel na bolsa no final das contas, se considerarmos o período entre a reeleição de Dilma Rouseff (27/10/2014) e o último fechamento no pregão dessa sexta-feira 28 de Julho de 2017, não deixou a desejar subindo nada mais nada menos que 337,46%.
Mas nesses últimos meses os indícios que o pior momento da crise passou se tornaram mais evidentes e, com o fim do Leviatã da economia brasileira, o Beemote do setor farmacêutico também parece estar desaparecendo, este que seria a própria RD que vem assistindo ao seu desempenho no mercado acionário enfraquecer com o decorrer do ano.
A “crônica de uma morte anunciada”, seguindo o termo usado pelo diretor da empresa, Eugenio de Zagottis, na teleconferência com analistas nessa quinta, conseguiu ficar abaixo das expectativas já negativas dos investidores e causou uma queda expressiva do papel que abriu o pregão com um gap negativo de R$ 1,38 (-1,87%). Primeiramente é importante ressaltar que o segundo trimestre de 2016 foi um trimestre de recordes para a empresa, o que deu apoio às já citadas expectativas fracas dos investidores para o resultado atual. Com isso em mente podemos ir aos números. O lucro líquido teve uma queda de 12%, chegando a marca de 138 milhões, que apesar de não ser algo terrível como a redução que a Vale (SA:VALE5 (SA:VALE5)) viu em seu lucro (98,3%), por exemplo, é ainda um número que chama a atenção negativamente, o EBTIDA, um dos indicadores mais observados por investidores teve uma queda de 1,2%. No relatório a respeito dos resultados divulgados a RD destacou pontos que corroboram para justificar o resultado, como um reajuste de preços muito abaixo do praticado no período anterior (3,1% ante 11,8% em 2016) e o mês de abril, simplesmente pelo fato de que ocorreram 3 feriados prolongados, o que dificultaria vendas em fins de semana. Mas também destacou pontos que sustentam um certo nível de otimismo para o futuro: 36,1% das lojas da RD ainda estão em processo de maturação devido ao boom de inaugurações observado nos anos anteriores, logo a empresa ainda não estaria atingindo todo seu potencial; uma menor pressão dos aluguéis dos estabelecimentos nas margens, visto que o IGP-M vem tendo uma queda nos últimos meses; a entrada da empresa no mercado cearense e, por fim, novos programas de fidelidade a serem implementados no próximo semestre.
Os últimos anos foram verdadeiramente generosos para a RD, porém agora parece ser a hora do descanso para o papel na bolsa, assim como ocorreu durante todo os logos 8 meses de julho de 2015 até fevereiro de 2016, o papel provavelmente terá dificuldades para renovar máximas com a facilidade que vinha tendo. O ativo agora oscila contra as médias móveis (abaixo delas) e testou o seu último fundo nos 68 reais, a perda dessa marca significaria o fim da tendência altista da empresa e mostraria que o que era inicialmente visto como uma mera correção é na verdade a morte da tendência que vinha desde 2016, jogando o papel para a casa dos R$ 65,80. Enquanto a compra não é recomendada cabe ressaltar que não estamos diante de um caso semelhante ao da Sanepar, onde a empresa construiu expectativas e não as correspondeu, na verdade a RD é uma empresa extremamente sólida e hegemônica em seu setor, a perspectiva de crescimento ainda se mantém firme para o longo prazo que, com o agravamento da inversão na pirâmide demográfica, terá uma demanda maior por produtos farmacêuticos. Por fim essa ex-campeã parece estar fazendo seu dever de casa e ,ao entrar agora em uma maré calma e lateralizada, dá continuidade ao que parece ser um eficiente plano de expansão para poder colher os frutos num futuro próximo, enquanto os ânimos dos investidores se acalmam e aqueles mais céticos e especuladores devem abandonar suas posições a oportunidade reside na faixa dos já citados 65 reais onde o papel deve se encontrar com sua média móvel de 200 períodos.