Primeiramente, é válido explicar que cada vez mais comentaremos sobre investimentos internacionais! Ser um investidor global já é uma realidade hoje e mais do que nunca precisamos internacionalizar nossos investimentos. Afinal de conta, a maioria dos produtos que consumimos são dolarizados e são de fora.
No momento que este artigo está sendo escrito, eu estou usando um computador que possui o Windows da Microsoft (NASDAQ:MSFT), com teclado e mouse da Logitech (NASDAQ:LOGI). Muitos irão ler em seus smartphones Apple (NASDAQ:AAPL) e muitos irão nos encontrar ao pesquisar no Google (NASDAQ:GOOG) sobre finanças. Eu poderia ficar por muito tempo citando coisas ou serviços que usamos no nosso dia a dia e que são dolarizados, então por que não ser sócio dessas companhias tão presentes no nosso cotidiano? Por que não proteger nosso dinheiro suado em uma moeda forte?
QUEM É A BEYOND MEAT?
A Beyond Meat (NASDAQ:BYND) é uma produtora de substitutos de carne à base de plantas, com sede em Los Angeles, fundada em 2009 por Ethan Brown. Os produtos iniciais da empresa foram disponibilizados nos Estados Unidos em 2013. A Beyond Meat é uma das empresas de alimentos que mais cresce nos Estados Unidos, oferecendo um portfólio de carnes revolucionárias à base de plantas. Eles fazem “carne” (salsicha e frango também) diretamente das plantas, uma inovação que permite aos consumidores experimentar o sabor, a textura e outros atributos sensoriais dos produtos à base de carne populares, enquanto desfrutam dos benefícios nutricionais de comer os seus produtos.
FAKE MEAT: UMA NOVA ONDA
Beyond Meat (NASDAQ:BYND) produz vários tipos de carnes 100% vegetarianas. Você deve estar se perguntando, mas isso realmente presta? Parece que sim, a companhia realizou sua abertura de capital na Nasdaq dia 02/05/19 e viu suas ações saírem do preço de abertura de US$ 25 para US$ 46, logo no início da tarde. E chegaram a fechar ao preço de US$ 65,75 no seu primeiro dia, retornando aos seus investidores que entram na oferta 163% em um único dia. Arrecadando assim US$ 240 milhões no IPO, que serão usados para aumentar as vendas e os produtos oferecidos.
Vale ressaltar que em quase 3 meses a companhia ainda retornou aproximadamente para seus investidores 840% de retorno!!! Quem conseguiu comprar no segundo dia, vamos supor a US$ 66 dólares no preço de abertura e segurou esse período, teve um retorno de 254% neste mesmo período.
Fonte: br.investing.com
A companhia parece indicar mais umas das tendências de IPO’s para os próximos anos, que é o segmento de “FoodTech”. Uma vez que a mesma emprega tecnologia para criação de seus produtos e, como eles não levam carne animal, precisa-se de muita tecnologia, pesquisa e desenvolvimento para a criação dos seus produtos. Atualmente, a companhia conta com 3 produtos, o Beyond Beef (“carne” normal mesmo), Beyond Burger (carne de hambúrguer) e a mais nova Beyond Sausage (linguiças).
Mas será que são boas? Parece que são muito boas, chegando a MUITO PRÓXIMO do que seria a carne animal. Quem comeu, diz que consegue sentir a diferença, mas o gosto, o cheiro, a textura, lembram muito carne de verdade. Como eu disse, é muita tecnologia e estudo empregado para a criação desses produtos. Não obstante, Beyond Meat (NASDAQ:BYND) já está em mais de 35 mil estabelecimentos nos EUA e em redes extremamente famosas, como Whole Foods, Target, Del Taco, TGI Fridays e Carl’s Jr.
Para servir de curiosidade, Ethan Brown, que é o engenheiro por trás da criação da companhia, explicou em uma entrevista para a Business Insider que “carne” é basicamente 5 coisas: aminoácidos, lipídios, água, alguns minerais e traços de carboidratos. Todas são fontes abundantes em plantas, o desafio está em montar na arquitetura da carne. Inclusive, o Bill Gates em 2013 investiu na startup após provar os produtos da companhia.
Ah mas eles devem só ter vegetarianos/veganos como clientes! Parece que não, eles não têm atingido vários tipos de públicos. Algumas pessoas (como eu), gostariam de parar de comer carne ou pelo menos reduzir o seu consumo… A companhia tem trazido soluções mais acessíveis para este tipo de público.
Então é isso? Uma empresa perfeita? Num setor sem competição? Não. A companhia já tem concorrentes de peso, o “Impossible Burger”, da companhia Impossible Foods, é um deles. Eles fazem praticamente a mesma coisa, o mesmo produto, sendo que alguns falam que o hambúrguer da Impossible Foods tem um gosto até mais próximo ainda da carne bovina (e olha que ele é feito de plantas).
Recentemente o Burguer King fez uma parceria com a Impossible Foods para distribuição de um hambúrguer “Veggie” usando seu “Impossible Burger”. No Brasil, esse hambúrguer está sendo distribuído pela Marfrig (SA:MRFG3). Além da Impossible, existem também Gardein, Don Lee Farms, Fiel Roast. E não para por aí, empresas tradicionais estão entrando na festa também, como Tyson Foods, Kellog (via marca MorningStar Farms) e Nestlé (via marca Sweet Earth).
DESAFIOS DE UM NOVO MERCADO
Essa nova onda caiu no gosto da nova geração seja por preocupação com o aquecimento global, por saúde ou militância contra a crueldade aos animais. O faturamento combinado das alternativas vegetarianas para carnes, leites, queijos e ovos subiu quase 20% nos EUA, segundo a Nielsen.
O fato de o IPO ter sido um sucesso vai trazer os holofotes para o setor. O ruim do “boom” de setores que estão em sua fase inicial é que as vezes as companhias acabam mal precificadas ou até difíceis de se precificar. E com a concorrência se acirrando em cima do setor, isso tende pressionar ainda mais as margens da companhia, que pode acabar sendo forçada a entrar em uma guerra de preços.
A concorrência está esquentando no setor de proteínas de origem vegetal, que hoje já está no valor de U$ 14 bilhões e segundo Wall Street pode chegar até U$ 140 bilhões. Além disso, esse setor tem que enfrentar o setor de carnes animais que já somam U$ 270 bilhões. A Beyond Meat inclusive analisou quanto o leite a base de plantas capturou do leite normal e acredita que pode capturar 13% ou U$ 35 bilhões do mercado internacional de carne.
A empresa também está voltando seus produtos para supermercados grandes e conhecidos na tentativa de capturar mais clientes, e fechando parcerias. Infelizmente, suas ações já começaram a sofrer um pouco por conta da entrada de novos concorrentes e por alguns eventos: (i) A Nestlé como já dita anteriormente, entrou no mercado de carnes vegetais e anunciou o “Incredible Burger” (traduzido “Hambúrguer Incrível”) via sua marca “Sweet Earth” na base de soja e trigo. Isso fez com que as ações da Beyond Meat (NASDAQ:BYND) sofressem uma pressão vendedora, que acabou jogando os papeis da companhia para baixo; (ii) O banco JP Morgan rebaixou as ações e comentou que a companhia já tinha subido demais e que agora estavam precificando muito crescimento futuro e que era melhor aguardar. Mais uma vez as ações cederam e caíram mais um pouco; (iii) Teve o fim do período de “Lock-Up” (que é uma espécie de trava para o investidor) das ações no dia 29 de outubro. O investidor que entra no IPO (Abertura de Capital) com o “Lock-Up”, fica alguns meses sem poder vender suas ações, após o período estabelecido ele pode decidir por vender ou continuar com elas. Este último evento também fez com que os papeis da companhia caíssem.
Fonte: br.investing.com
UM CRESCIMENTO DIFÍCIL DE SE ACOMPANHAR
As receitas, ou seja, o dinheiro que ela ganhou de suas vendas, cresceu em 170% em 2018 em relação a 2017 e em 2016 para 2017 cresceu 101%. Porém, o Lucro Líquido da companhia na verdade tem sido só prejuízo. Em 2018 a companhia reportou perda de $ 29,9 milhões, em 2017 de $ 30,4 milhões e em 2016 de $ 25,1 milhões.
No terceiro trimestre deste ano a companhia bateu todas as estimativas do mercado, deixando muita gente sem entender. Analistas esperavam um registro de EPS (LPA) U$ 0,03 centavos e cerca de U$ 82 milhões de receita. A companhia entregou um lucro por ação de U$ 0,06 centavos e uma receita de U$ 92 milhões (250% de alta ano contra ano).
Fonte: Beyond Meat (NASDAQ:BYND) Release 3Q19
Suas receitas e pedidos foram tão altas que fez a empresa aumentar o guidance anual. Mas nem tudo são flores rs… Apesar do resultado satisfatório, é preciso ver se a administração da companhia consegue aumentar efetivamente a demanda do seu produto. A empresa está sofrendo com concorrência no varejo e precisa continuar vendendo muito mais do que ela vende para manter os níveis atuais de lucratividade.
Chegamos então na pergunta: como e o que fazer para aumentar a demanda? O caminho mais óbvio no momento parece ser as parcerias. No momento a companhia está em parceria como Mc Donald’s, Dunkin, KFC e Subway. Essas parcerias não trazem só novos clientes, mas também pedidos maiores. Notem que é um setor meio que “anti-crise”, uma vez que a demanda no longo prazo, se estabelecida, não tende a diminuir tanto que nem em outros setores por que as pessoas continuam consumido comida no geral.
Outro plano apresentado pela companhia para aumentar a demanda, é diminuir a diferença de preço entre a carne animal e o seu produto. Este é mais difícil de se aplicar, uma vez que ela vai ter que dar um jeito de reduzir os custos dos seus produtos para tentar barateá-lo e no longo prazo isso é mais difícil de se manter.
Esses custos altos são uns dos motivos do por que ela não consegue dar lucro ainda… Estão gastando mais do que arrecadam, e faz sentido, é justificável. A companhia está crescendo e precisa cada vez mais gastar no desenvolvimento de novos produtos, aquisições de companhias para melhorar suas operações, atender novas demandas, dentre outras coisas. É totalmente discutível se vale a pena ou não ter ações as da companhia, devido ao retorno que ela gerou até o momento, mas temos que admitir que é um case bem interessante e vale a pena ficar de olho.
Era isso, valeu!
Breno Bonani.
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