No artigo de hoje, pretendo decifrar as respostas que a população vem dando, por meio de pesquisas de avaliação, acerca do governo Bolsonaro. O que se demonstra é um governo fortemente baseado em valores conservadores, com duas bandeiras majoritárias – combate à corrupção e segurança pública. Evidentemente, a grande personificação destas agendas é o ministro da Justiça, Sérgio Moro. Inclusive, a avaliação pessoal do presidente é, na média, negativa – o que nos leva a crer que a população vê outros atores de Brasília que tocando as pautas.
Esse texto serve de complemento para meu último artigo, cujo principal argumento foi de que a estratégia do governo passa essencialmente pela polarização do país como forma de manter sua base eleitoral ativa e sólida. Isso significa que, até agora, o presidente não se importa em observar sua impopularidade crescer, desde que cerca de um terço dos brasileiros continue firmemente apoiando suas decisões.
Lá, procurei me basear em duas pesquisas recentes de avaliação de governo e conjuntura brasileira. Os levantamentos foram elaborados pelos institutos FSB Pesquisa, em parceria com a Revista Veja e pelo Instituto de Pesquisa MDA, em parceria com a CNT (Confederação Nacional de Transporte). As pesquisas, claro, são independentes e não necessariamente tratam dos mesmo pontos, tampouco usam a mesma metodologia de análise. Ainda assim, são bons termômetros do atual panorama político e das expectativas que a população tem sobre o futuro do país.
As pesquisas, respectivamente, foram feitas entre os dias 16 a 19 e 22 a 25 de agosto. Em ambos os casos, foram entrevistados cerca de 2.000 indivíduos ao redor das cinco regiões brasileiras. No caso do levantamento do MDA, a margem de erro é de 2,2 pontos percentuais com 95% de nível de confiança. Já na pesquisa do instituto FSB, a margem de erro é de 2 pontos percentuais, também com 95% de nível de confiança.
Se a polarização ideológica é uma marca relevante do governo Bolsonaro, ela se dissemina por meio de uma comunicação fortemente baseada na agenda de valores, como o cristianismo, a família e os bons costumes e o conservadorismo moral. Não foram poucos os episódios em que Bolsonaro, ou qualquer um de seus filhos, utilizaram redes sociais, mídia ou qualquer outro meio de comunicação para condenar ações fora desse conjunto de valores. Quando digo que não foram poucos, entendam que há uma escolha, um ato pensado, por trás dos recorrentes ataques. Na lista: o episódio do Carnaval, a acusação contra Miriam Leitão, críticas às reservas indígenas, aos governos petistas (essa, admito, não é muito difícil de não fazê-la), e por aí vai…
Por consequência das polêmicas, o presidente percebe um aumento na desaprovação do seu desempenho pessoal e queda na aprovação. O quadro, porém, deve se estabilizar nessa divisão (ver gráfico abaixo) de cerca de 40% para os que aprovam o jeito do presidente governar, e 50% que desaprovam.
Até porque, como já mencionei, o desempenho do governo está também ligado ao desempenho de outros ministérios e atores de Brasília, não somente ao presidente. Nessa lógica, rende mais frutos ao governo adotar um discurso inflamado e medidas controversas para reafirmar as bases ideológicas do presidente do que firmar-se como um governo conciliador. Governos conciliadores remetem, no imaginário da população, à "velha política" dos governos petistas e até de Temer.
E vejam a importância de Sérgio Moro, na tabela abaixo, para a percepção de avanços do governo. De acordo com a pesquisa feita pelo CNT/MDA, as áreas onde o governo melhor desempenha, assim como as melhores ações feitas nesses oito meses, estão diretamente relacionadas à sua atuação e, claro, à espinha dorsal do discurso bolsonarista de combate à corrupção e tolerância zero com criminalidade. (Um adendo: em pesquisa divulgada nessa segunda-feira (2) pela XP/Ipespe, 38% dos entrevistados acreditam que Moro mais representa o combate à corrupção).
Do lado negativo, porém, destaca-se todo o estresse com os recentes acontecimentos na Amazônia, o novo decreto de armas promovido pelo Executivo e as declarações polêmicas do governo. Novamente, ligados ao estilo bem definido de atuação e promoção de uma agenda conservadora. No que se refere aos maiores desafios que o Brasil deve enfrentar, a pesquisa não foge do clichê. Saúde, educação e geração de emprego são as áreas que mais afligem a nossa população já há algum tempo, não sendo exclusividade do governo atual.
Com esse estilo de governar, Bolsonaro vai caminhando rumo ao fim de seu primeiro ano e já pensando em 2022. Acredito que, de fato, a polarização é o melhor caminho se o presidente quer ser reeleito. Em que se pese, e muito, a importância de Sérgio Moro e Paulo Guedes no governo. Enquanto a economia volta a se recuperar e a sensação de impunidade – tanto nas ruas quanto para crimes de colarinho branco – vai diminuindo (apesar dos últimos contratempos envolvendo a Lava Jato e o próprio ministro), o presidente joga à opinião pública projetos como proibir radares móveis, indicar seu filho para a embaixada dos EUA, entre outros temas que alimentam a divisão ideológica.
O resultado disso é claro: aqueles que defendem o governo reforçam sua posição e aqueles que são contra Bolsonaro e o que ele representa engrossam o caldo das críticas. A depender do tema, o "centro" do eleitorado pende mais para um ou outro lado, mas continua independente. Na cabeça do presidente, no fim do mandato, tudo mais constante, o cabo de guerra ideológico ficará em segundo plano e seu apoio virá de uma melhor economia e um país menos corrupto. Resta saber se a estratégia vai sair melhor que a encomenda.