“As margens de lucro provavelmente são a série que mais reverte à média nas finanças. E, se as margens de lucro não estiverem revertendo à média, algo muito errado está ocorrendo no capitalismo”. – Jeremy Grantham
Apesar de muitos considerarem que o capitalismo está arruinado, esse não é o caso. Sem dúvida, há problemas com a desigualdade econômica, cuja maioria tem relação direta com políticas monetária e fiscal e com o aumento do corporativismo. Mas essa é uma discussão para outro artigo.
O cenário atual mostra que o capitalismo está mais vivo do que nunca. E sabemos disso por conta do aumento da inflação e dos lucros corporativos desde 2020. Se o capitalismo estivesse arruinado, a inflação não teria aparecido quando a economia foi inundada pela injeção de US$ 5 trilhões em estímulo fiscal. Por exemplo:
“A seguinte ilustração mostra um conceito básico de economia. Como seria de se esperar, a inflação é a consequência da restrição da oferta e do aumento da demanda gerado pelos ‘estímulos’ governamentais.”
Com o fechamento da economia e a disparada inorgânica da demanda, promovida pelo “dinheiro de graça”, houve um aumento nos preços dos bens com oferta restrita. O comportamento da função básica de oferta e demanda da economia prova que o capitalismo está funcionando bem. Além disso, como mostrado, os lucros corporativos subiram com a redução dos custos de mão de obra, em vista do bloqueio sanitário e dos preços maiores gerados por uma demanda artificialmente estimulada.
“Cabe ressaltar que isso não tem nada a ver com o fato de que grandes corporações estejam se aproveitando dos consumidores. Trata-se apenas da consequência econômica de excesso de dinheiro em busca de poucos produtos”. – RIA
Por fim, se o capitalismo estivesse arruinado, como muitos sugerem, os preços do mercado acionário não teriam acompanhado o crescimento dos lucros corporativos. Em um ambiente de mercado capitalista, os investidores atribuem um valor maior a empresas que aumentam seus lucros. Foi justamente isso que vimos em 2020 e 2021, quando os investidores começaram a pagar mais pelos lucros obtidos à época. Como sempre, a ganância é um subproduto do capitalismo.
No entanto, os lucros corporativos também devem cair, se o capitalismo não estiver arruinado.
O que você fará por mim agora
Vamos relembrar o que gerou um maciço aumento dos lucros corporativos.
- O fechamento da economia gera um grande aumento do desemprego.
- O governo começa a fornecer US$ 5 trilhões em estímulo direto às famílias.
- O Federal Reserve corta a taxa de juros para zero.
- Inicia-se o mais agressivo programa de afrouxamento quantitativo da história.
- Moratória de várias obrigações de dívidas permite que as famílias usem mais poupança discricionária para gastar.
Não é de surpreender que tenha havido um acentuado aumento do lucro corporativo, em vista da drástica redução dos custos com mão de obra e do grande volume de auxílio às famílias, que ficaram com bastante dinheiro para gastar e nada mais interessante para fazer, em um cenário de estoques insuficientes para satisfazer a demanda. Dados de uma pesquisa da Federação Nacional de Empresas Independentes (NFIB) dos EUA com pequenas empresas confirma que, com o aumento dos custos de mão de obra, os lucros corporativos tendem a cair.
“Isso mostra que as margens de lucro da economia geral continuarão caindo, possivelmente com intensidade, ao longo do ano.” – Simon White, Bloomberg
Portanto, suponha que a combinação de uma economia fechada, sem oferta e com enormes rodadas de estímulo fiscal, nos fez chegar até aqui, Qual será o catalisador que dará suporte aos lucros no futuro?
Nos próximos anos, o ambiente provavelmente mudará bastante.
- A economia está voltando a ter um crescimento lento, com risco de recessão.
- A inflação está caindo, o que significa que as corporações estão perdendo poder de formação de preços.
- Não há mais estímulo para apoiar a demanda.
- Nos últimos dois anos, a antecipação do consumo pesará sobre a demanda futura.
- As taxas de juros serão mais altas, impactando o consumo.
- Os consumidores reduziram fortemente a poupança e aumentaram as dívidas.
- Os estoques reduzidos deram lugar ao excesso de inventário.
Se você concorda com essa premissa, também concorda que o capitalismo não está arruinado. Por isso, os lucros corporativos e, por extensão, os resultados, devem sofrer uma reversão para acomodar um crescimento econômico mais lento. O atual desvio quase recorde dos resultados corporativos em relação à tendência de crescimento exponencial de longo prazo é problemático para os investidores otimistas.
Capitalismo continua desconectado
É compreensível que as pessoas acreditem que o capitalismo esteja arruinado. Elas consideram que foram injustamente tratadas na condição de fornecedoras de mão de obra aos fornecedores de capital. O gráfico abaixo que compara os lucros aos salários é eloquente.
No entanto, a definição de capitalismo está nesse gráfico:
“O capitalismo é um sistema econômico em que os donos das empresas (capitalistas) empregam trabalhadores (mão de obra), que recebem apenas um salário. Os trabalhadores não detêm os meios de produção, mas apenas os utiliza em benefício dos detentores de capital". – Investopedia
Em outras palavras, se você está se sentindo menosprezado pela atual economia, tem três opções:
- Ser um trabalhador ou
- Se tornar um fornecedor de meios de produção, ou
- Investir em empresas abertas no mercado acionário.
O problema é que o lucro corporativo e o mercado continuam desconectados da economia subjacente, devido às enormes intervenções ocorridas na última década. Isso torna mais problemáticos os retornos futuros provenientes da oferta de meios de produção e dos investimentos no mercado.
Historicamente, esses desvios não acabam bem para investidores excessivamente “altistas”. A correlação fica mais evidente quando analisamos o mercado com base na relação dos lucros corporativos com o PIB. Por que lucros? Porque, para fins tributários, as corporações devem relatar "lucros", conceito menos suscetível a manipulação do que "resultados".
Dada a correlação de 90%, a relação entre o crescimento econômico, os resultados e os lucros corporativos deve ser evidente, da mesma forma que uma eventual reversão em ambas as séries. Atualmente, o S&P 500 está sendo negociado bem acima da tendência histórica dos resultados. Com a queda dos lucros corporativos, as estimativas atuais de resultados também devem recuar.
Não. O capitalismo não está arruinado. Contudo, a desconexão do mercado acionário com a lucratividade subjacente é garantia de resultados futuros decepcionantes para os investidores. Mas, como sempre ocorreu, Wall Street está atrasada no acompanhamento da realidade econômica.
Esse é o caso particularmente em relação à disparada das ações em uma economia se enfraquecendo, com menor liquidez global e inflação crescente. Enquanto os investidores se aferram à “esperança” de que o Fed tem tudo sob controle, existe uma chance mais do que razoável de que não.