Nos últimos tempos, deixamo-nos apaixonar pelo Renascimento e, depois, pelo Iluminismo. Mais recentemente, pelo Humanismo.
Gostamos de acreditar que mais Ciência significa mais conhecimento, mais previsibilidade e mais controle sobre o mundo. No entanto, essa crença, ironicamente, deixou de ter lastro científico.
O grande racha, para mim, veio quando Einstein ficou puto com a mecânica quântica.
A Física de Newton e de Einstein transmitiam, de fato, a impressão de um entendimento crescente do Universo.
Já a partir da quântica, inaugurada meio sem querer pelo próprio Einstein, emergiu a chocante constatação de que dificilmente poderíamos compreender as coisas que nos cercam (ou dentro de nós) em sua completude.
Não porque não estávamos ainda prontos para compreender, porque éramos jovens, mas simplesmente porque existem limites estruturais à construção do conhecimento.
Einstein ficou mesmo puto, milhões de cientistas continuam emputecidos até hoje. Putos à toa, porque tudo o que eles precisavam fazer era olhar para a arte.
Na arte, o entendimento é devidamente relegado a um segundo plano, enquanto a previsibilidade se faz deletéria e o controle se traduz em censura.
Por exemplo: eu não manjo nada de Fellini, mas adoro uns filmes dele.
Para Fellini, a interpretação de um filme — e, mais geralmente, da arte — ocorre, sobretudo, fora do terreno racional.
Você chora ao assistir um filme. O que você entendeu da história? Não importa. Fodam-se os críticos de cinema. Você está chorando, e aquilo basta.
Lembrei disso por quê?
Semana passada, recebi uma mensagem com o seguinte teor:
"HGTX3 (SA:HGTX3) tá derretendo! Não consigo entender! O que tá acontecendo com a empresa? Vendo já pra evitar perdas maiores?"
Vamos supor que você entenda perfeitamente, dedução matemática, o que está acontecendo com a empresa.
Isso vai te impedir de perder dinheiro quando a ação cai?
Não. Só te impediria se você entendesse tudo antes da queda. Mas daí não seria entendimento, seria prever o futuro.
Pense comigo.
Depois que a ação cai, os entendidos e os desentendidos são colocados num mesmíssimo balde: o baldão dos investidores que perderam dinheiro.
Antes de a ação cair, não existem entendidos, da mesma forma que não existem pessoas capazes de prever o futuro. Todos são desentendidos.
Logo, seu diferencial como investidor não pode estar escondido no ENTENDIMENTO do mundo das finanças.
Só há uma forma de nos diferenciarmos, a forma de Fellini: how are we moved by the ups and downs of our investments?.
De que maneira encaramos as perdas de -3,29% e os ganhos de +4,25%?
Você só precisa responder essa pergunta a si mesmo, e não precisa de nenhuma explicação.