Os recentes eventos políticos, a saída de Levy e entrada de Barbosa no Ministério da Fazenda e rebaixamento do rating acentuou a desconfiança no governo, levando à queda acentuada da bolsa e a subida da cotação do dólar.
O mercado já esperava por esses dois eventos: o downgrade já era tido como certo e a saída de Levy já se previa, talvez não já, mas eram evidentes as divergências e o desgaste com a presidente Dilma.
O impeachment que era bem visto pelo mercado sofreu um revés, que deu algum folego a presidente e ao seu governo pelo seu adiamento.
A nomeação de Barbosa para o Ministério da Fazenda não foi bem vista pelo mercado, o que é natural, já que ele é alinhado com a presidente Dilma e o seu discurso não convence a ninguém, pois a nova matriz económica traçada por esse governo dificilmente resolverá os problemas do Brasil.
O ajuste fiscal parece que está mais distante e a austeridade necessário a correção das contas públicas poderá ficar pelo caminho.
O cenário económico para 2016 já está traçado, a recepção irá continuar, a inflação manter-se alta, o dólar irá continuar alto, a renda irá contrair, o desemprego deverá aumentar, o descontrole das contas públicas irá continuar, apesar de poder ser menor que 2015, a taxa de juros Selic deverá subir se a inflação não começar a ceder por força da retração da economia e a cotação da moeda norte-americana se mantiver alta.
A atuação do BC, penso que ninguém questiona a sua continuidade no controlo da cotação do dólar, pela rolagem dos contratos swaps e a oferta de novos contratos, assim como as linhas de financiamento aos bancos, que comprometem boa parte das reservas cambiais. O que resta saber até quando o BC conseguirá manter essa linha de atuação.
A saída de fundos de investimento estrangeiros por força do downgrade, poderão comprometer mais ainda as reservas cambiais que não estão já comprometidas (swaps e linhas de crédito), não conseguindo estimar o seu valor.
A estimativa de um saldo da balança comercial para 2016 de R$ 30 bilhões e a previsão do IDP de R$ 66 bilhões poderão ser exagerados, mas ajudará a diminuir o déficit em transações correntes.
Os fluxos cambiais assumem uma grande importância em 2016 e o seu comportamento será determinante para o nível de reservas cambiais e o impacto nas transações correntes e condicionar a atuação do BC.
Teremos que esperar não pelas palavras de Barbosa, que neste momento como as do governo carecem de credibilidade, mas sim pelas ações que poderá tomar, sendo certo que a tentativa de uma possível recuperação econômica e melhoria das contas públicas pelo elevar o consumo e despesa está fadada ao fracasso, por não haver margem para tal. Vamos ter que esperar para ver, mas não auguro nada de bom, mas sim temo pela continuação ruim da situação econômica e só em 2017 ou 2018 é que poderá se vislumbrar alguma melhora.
Definitivamente a escolha de Barbosa pode ser bom para a presidente por ter um aliado ou vassalo do seu desgoverno, mas para a situação econômica do pais não foi a melhor, não querendo ser redutor a uma só pessoa, esperava-se alguém com maior credibilidade e realmente comprometido com o ajuste fiscal.
Obviamente que estes fatores tiveram efeitos negativos imediatos no mercado, gerando maior desconfiança e criando um clima de pânico, no qual a bolsa e a cotação do dólar foram os mais afetados, ainda por cima num mercado de câmbio com alta volatilidade e altamente especulativo.
Este clima de pânico tenderá a ser atenuado, pois essas situações já estavam quase todas previstas, não havendo nada de novo a não ser a nomeação do ministro Barbosa para a Fazenda.
Mesmo que não fosse Barbosa a ser nomeado era previsível que fosse alguém ligado e comprometido com o governo e não um outsider de maior credibilidade, pois a fragilidade do governo e a sua credibilidade não dava margem para outra opção.
O risco Brasil aumentou, os investidores estrangeiros e nacionais irão exigir um prêmio (rentabilidade ou rendimento) maior o que gerará um custo maior para investirem ou manterem os investimentos no Brasil.
Ao invés do governo procurar se credibilizar quer internamente como externamente fez precisamente o contrário, criando mais incertezas, especialmente sobre o ajuste fiscal.
Perante estes eventos recentes é de esperar que nada mude ou mude muito pouco em termos económicos e políticos, mantendo-se quase tudo como está.
Para finalizar, temos que esperar e analisar como o mercado irá se comportar em 2016, até que ponto será tão ruim como o que é esperado, em economia não se pode tomar tudo como certo e esperado, há muitos fatores que são difíceis de ser contabilizados e estimados e há eventos que não são passiveis de previsão para melhor ou para pior.
O que é certo é que a incerteza globalmente se manterá e a desconfiança e o pânico serão fatores de instabilidade do mercado, mesmo que sejam em parte irracionais ou de forma exacerbada.