Há uma década, economistas teorizam sobre como o envelhecimento e a redução da população da China podem afetar seu potencial de crescimento econômico. Hoje, porém, não há mais espaço para conjecturas: a demografia já aprofunda os desafios deflacionários do país.
A experiência do Japão desde a década de 1990 deixou claro que poucos asiáticos acima dos 65 anos consomem com o mesmo apetite que indivíduos na faixa dos 20 e 30 anos. Esse grupo costuma comprar menos imóveis, veículos e eletrodomésticos, troca de tecnologia com menor frequência e reduz os gastos com viagens e restaurantes de alto padrão.
A seguir, veja como as tendências demográficas na China complicam ainda mais o trabalho dos formuladores de política econômica no combate à deflação:
(1) O encolhimento populacional é estrutural. Em 2024, a população chinesa diminuiu pelo terceiro ano consecutivo, com uma queda de 1,39 milhão na comparação anual, para 1,408 bilhão de pessoas, uma trajetória inédita desde a fundação da República Popular em 1949. A pressão sobre a economia vem dos dois extremos da pirâmide etária: a expectativa de vida mais longa sobrecarrega os sistemas previdenciários, enquanto o declínio na taxa de natalidade limita a entrada de novos consumidores.
Desde 2022, o número de nascimentos permanece abaixo de 10 milhões. Projeções da ONU indicam que a população chinesa pode se reduzir pela metade até 2100, chegando a 633 milhões. Segundo a Bloomberg Intelligence, nos próximos dez anos, a China pode perder o equivalente à população inteira da Coreia do Sul, mais de 50 milhões de pessoas.
(2) O passado cobra seu preço. Poucas decisões políticas tiveram efeito tão profundo quanto a rígida política do filho único, implementada por Mao Tsé-Tung. Ao final da Revolução Cultural, em 1979, o Partido Comunista temia que o rápido crescimento populacional tornasse impossível alimentar o país. Reduzir os nascimentos tornou-se uma prioridade nacional, com medidas rigorosas. Quando o presidente Xi Jinping encerrou a política em 2016, o impacto demográfico já estava consolidado, com efeitos difíceis de reverter.
Hoje, famílias chinesas apontam o alto custo de vida e a incerteza profissional como razões para terem menos filhos. Essas preocupações fazem com que muitos jovens posterguem ou até abandonem planos de casamento.
O encolhimento da força de trabalho mina os esforços de Xi para estimular a demanda doméstica. Desde que assumiu o comando em 2012, a população em idade ativa (de 16 a 59 anos) vem diminuindo. Somente no ano passado, essa faixa perdeu quase 7 milhões de pessoas, totalizando 858 milhões, de acordo com o Banco da Finlândia.
(3) Tudo está interligado. Esse cenário alimenta o chamado problema dos “3Ds” na China: deflação, dívida e demografia. Cada um desses fatores, preços em queda, governos locais sobrecarregados por trilhões em dívidas e uma população que envelhece rapidamente, já seria um desafio isoladamente. Enfrentá-los simultaneamente ajuda a explicar por que muitos analistas projetam que o crescimento econômico da China dificilmente passará de 2% na década de 2030.
A economista Alicia García Herrero, do banco de investimentos Natixis, alerta que a China “sentirá esses efeitos de forma mais aguda após 2035”, quando o impulso econômico proporcionado pela urbanização se esgotará.
(4) O desequilíbrio de gênero. O agravamento da desigualdade entre homens e mulheres é mais um entrave ao crescimento populacional. Um legado da era Mao foi a preferência por filhos homens. Sem uma rede pública de proteção social, muitos pais idosos dependem dos filhos para serem cuidados, o que levou à percepção de que ter filhas era “regar o jardim do vizinho”, já que as mulheres passam a cuidar dos sogros após o casamento. Em 2024, a relação chegou a pelo menos 104 homens para cada 100 mulheres.
O país já enfrenta altas taxas de desemprego entre os jovens. Os riscos de instabilidade social, com gerações inteiras de homens solteiros e solitários, são evidentes.
Tudo isso significa que a queda dos preços ameaça impactar muito mais do que apenas o PIB do próximo ano.
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