Todos sabem, mas nem sempre atentam para o fato, que o preço da moeda americana no nosso mercado está ancorado no estoque existente de contratos de “swaps cambiais” presente no mercado, que cumpre a finalidade de “comprar credibilidade” para a moeda nacional já que é o instrumento para “hedge” (proteção do preço) que minimiza os riscos da variação cambial, que seria intensa e forte na sua ausência.
Só que a oferta deste instrumento, agora via rolagem, precisa ser rigorosamente monitorada pelo BC, para que não seja um fator de propulsão a movimentos de volatilidade.
A existência de reservas cambiais possuídas pelo país no montante em torno de US$ 370,0 Bi, o que não é muito no nosso entendimento, atravessa um momento totalmente desfavorável para que o governo aumente o seu acumulo dada a carência de fluxos favoráveis que permitam, em última análise se prestaria a gerar liquidez ao mercado à vista em caso de ocorrência de pressão de demanda, mas não é capaz de sustentar o preço da moeda americana de forma incontestável porque implicaria no seu dispêndio com concomitante redução do estoque, o que fragilizaria cada vez mais a moeda. Então, a oferta de contratos de “swaps cambiais” trocando juro por taxa de juro é o mais adequado, porém precisa ser ofertado de forma compatível com a demanda e atua sobre as expectativas.
O que se presenciou em abril foi a ocorrência de um excesso de oferta de rolagem dos contratos vincendos no inicio de maio em relação à demanda efetiva presente no mercado futuro, o que determinou que a taxa cambial do dólar fosse depreciada de forma incompatível por tolerância do BC que poderia preventivamente ter alterado o montante ofertado. Este fato permitiu que se instalasse um movimento especulativo que provocou volatilidade e apreciação do real num dado período do mês, permitindo uma série de ilações por parte dos analistas.
Embora notório o que ocorria, uma grande parcela de observadores “continuava olhando para fora” para justificar estes movimentos, cometendo o equivoco de não dar o devido peso aos problemas internos do Brasil, que são muito mais intensos e impactantes localmente do que o que ocorre no exterior.
Afinal, a implementação do “tratamento de choque” que está sendo aplicado na economia de forma intensamente corretiva tem linhas de coerência teórica que, contudo, encontram consistente dificuldade de se tornarem realidade na pratica. O país corre o risco, como destacamos, de “transformar o remédio em veneno para a economia” e ocorrer então uma forte recessão que inviabilizará os objetivos das mudanças.
Na ponta ressurge o risco do não alcance do superávit primário de 1,2%, bastante acentuado pelos péssimos dados de arrecadação recentes, o que acentua o risco de perda do grau de investimento por parte do Brasil podendo tornar o quadro econômico mais traumático para o país.
O preço da moeda americana entre R$ 3,05 a R$ 3,10, que consideramos o ponto de equilíbrio face às circunstâncias atuais ancorada em volume de “hedge” bem monitorado, precisa ter contida a volatilidade que é um fator de contração dos negócios relacionados com o exterior e inibe os ingressos de capitais especulativos porque impõe riscos que não podem correr, e neste momento, o país precisa melhorar os fluxos de recursos externos, mesmo que seja de baixa qualidade e não permanentes, não havendo condições de escolha.
O que se percebe é o risco de reversão da discreta melhora ocorrida no negativismo predominante antes das manifestações das agencias de rating S&P e Fitch e da distensão na área política melhorando o ambiente negocial, ressurgir e isto precisa ser evitado, pois não há dúvida de que o Ministro Levy é detentor de crescente credibilidade, mas a não resposta da economia tem efeitos mais contundentes.
O Boletim FOCUS, que reproduz as projeções medianas de uma larga amostragem com as instituições financeiras, continua agravando a projeção da inflação 2015 agora em 8,26%; a da SELIC para 13,50% e da decadência do PIB para -1,16%, ou seja, será necessário mais elevação do juro SELIC para combater a inflação.
A projeção FOCUS do preço do dólar de R$ 3,20 para o final do ano coincide com a nossa visão prospectiva, desde que não ocorra risco acentuado de perda do grau de investimento.
No exterior, merecem menções dois fatos:
- O Presidente do FED Chicago afirmou não acreditar que mudar o juro este ano seja uma boa ideia, o que está em linha com a nossa percepção de que aos Estados Unidos não interessa mudar o juro este ano, tendo em vista os impactos de valorização do dólar na perda de competitividade externa de seu setor industrial e aumento da propensão à importar, afetando os ganhos havidos na atividade econômica;
- O PMI do HSBC para a indústria da China apontou a maior queda em abril em um ano.