Sergio Marchionne, o lendário ex-CEO da Fiat Chrysler e que infelizmente veio a falecer ontem, disse uma frase emblemática em 2016, quando finalmente a montadora resolveu colocar seus pés no mundo dos veículos elétricos ou híbridos: “better late than sorry”. Cito Marchionne, um dos executivos que mais admirava e um exemplo de gestão, para dizer que enfim estou estreando este espaço no Investing.com Brasil. Aqui, devo falar do mercado de renda variável, principalmente ações, mas também fundos imobiliários, toda quinta-feira, mas talvez outros dias da semana. “Better late than sorry”.
Sou Tiago Reis, fundador e CEO da Suno Research. O material publicado, espero, será de grande interesse para o indivíduo que busca um bom resultado em seus investimentos no longo prazo, principalmente de decisões racionais e bem fundamentadas. Embora muita gente no mercado tente em vão mostrar o contrário, sabemos que o longo prazo é a melhor maneira de um indivíduo médio, que tem uma profissão, família e amigos fora do mercado financeiro, atingir bons resultados com seus investimentos.
Estamos às vésperas da divulgação dos resultados trimestrais das companhias listadas em bolsa e, por isso, vou usar esta coluna para fazer algumas ressalvas sobre o efeito da greve dos caminhoneiros nas demonstrações que serão apresentadas aos acionistas.
Claramente a economia brasileira foi impactada negativamente pela greve dos caminhoneiros. O volume da atividade em produção industrial, serviços, varejo e investimentos sofreu redução, no entanto essa perturbação nos resultados não foi vivida da mesma maneira por todas as companhias. A magnitude dos impactos só será devidamente quantificada após análise das informações referentes ao segundo trimestre.
Empresas que trabalham com produtos físicos e dependentes da distribuição logística, majoritariamente commodities, varejo e produtos com alta rotatividade em geral, são as que tangivelmente se sentiram reféns dos caminhoneiros, pois nada podiam fazer a não ser aceitar a ociosidade na capacidade produtiva e a retração das receitas. O resultado foi a menor geração de valor ao acionista durante o período, encolhendo o retorno dos sócios dessas organizações.
Para ilustrar o cenário, a Companhia de Ferro Ligas da Bahia (Ferbasa (SA:FESA4)), que tem suas operações baseadas em commodities, onde a estratégia competitiva se baseia em custo, não diferenciação, viu seus números no mês de maio caírem. Conforme divulgado no RI da empresa, o volume de vendas recuou 38,9% e o faturamento líquido 31,4%. Uma companhia de capital intensivo como a Ferbasa, precisa desembolsar elevadas quantidades de CAPEX apenas para manter seu parque industrial funcionando, logo a greve restringiu suas possibilidades de entregar um ROE elevado ao acionista.
Gigantes como BRF (SA:BRFS3) e Carrefour (SA:CRFB3) também não foram poupadas. Por trabalharem com produtos perecíveis e que necessitam de rotatividade, terão seus resultados impactados pela greve. No período, 167 fábricas do setor de carne pararam suas operações e 234 mil trabalhadores tiveram as atividades suspensas, de acordo com a ABPA. Como são empresas que trabalham com margens operacionais baixas e alto volume de vendas, a paralisação impactará o EBITDA de maneira que não pode ser resumida em 11 dias de operações interrompidas. O efeito dos problemas na cadeia de suprimentos perduram mesmo após o término da greve.
Em contrapartida, existem atividades que saíram praticamente ilesas em seus resultados, mesmo tendo passado pela greve. Empresas que usam a internet como canal de distribuição de seus produtos e serviços puderam exercer suas operações normalmente, e mantiveram receitas em patamares normais. Fundos imobiliários continuaram distribuindo renda para seus cotistas sem grandes distúrbios, mesmo os de galpões logísticos, uma vez que recebem aluguel de seus clientes independentemente das peculiaridades de suas operações.
É vital, portanto, entender todas as vulnerabilidades de um negócio antes de tomar decisões de investimento, pois nunca sabemos quando a próxima crise - ou oportunidade - aparecerá.