Há sinais de recuperação de economias importantes no mundo global, sem desprezar no radar os riscos de uma segunda rodada da crise do coronavírus, mas é preciso absoluta acuidade ao não permitir o contágio da melhora do ambiente externo em termos absolutos como se ocorressem no Brasil, nossa realidade ainda é preocupante e não há motivos para celebrações.
A pandemia do coronavírus ainda emite sinais agressivos em números e na disseminação no Brasil contrariando as crenças de que esteja sendo superada, havendo perspectivas preocupantes e que, lamentavelmente, deixam sinais cotidianos de que ainda é precoce se admitir recrudescimentos e avanços mais intensos na flexibilização.
A flexibilização é na realidade um ato de “ousadia” dos governos estaduais e municipais, uma espécie de “lavar as mãos” ante o sério problema para não “pagar a conta” ao final, e desta forma equacionar o problema saúde com a economia, mas com um risco elevado de retrocesso.
Notícias otimistas sobre o mercado na China puxaram o ânimo nas bolsas globais e dados sobre a atividade manufatureira nos Estados Unidos reforçavam a expectativa de recuperação rápida daquela economia, mas este é o nosso foco sobre o contágio precipitado visto que há baixíssima sinergia destes fatos com a nossa realidade.
Por aqui, ancora-se o otimismo também nas “mensagens” do Ministro da Economia sobre privatizações importantes em perspectivas em até 90 dias, sem enunciar pistas, e também acerca da Reforma da Tributária ainda este ano.
São colocações retóricas e que tem o foco em gerar expectativas otimistas num ambiente ainda aferindo os expressivos danos contabilizados na economia brasileira até aqui pela pandemia do coronavírus, que nem sempre se confirmam no tempo, mas que não tem evidências concretas.
O quadro fragilizado da economia brasileira não enseja expectativas de reações potenciais de imediato, pois ainda não há convicção se chegamos ao “fundo do poço” e nem qual será efetivamente o legado no desemprego e queda relevante na renda que vem sendo atenuada pelo empenho, já insustentável, por parte do governo, e qual o novo perfil estrutural de retomada das atividades de muitas empresas.
É neste ponto que entendemos que “navegar nos bons ventos” de outras economias, distanciando a visão da nossa realidade pode acarretar desapontamentos.
Então, o que é perceptível no comportamento do mercado, tanto Bovespa quanto câmbio, é a predominância de operações de “day trade”, com os humores se “alimentando” dos comportamentos externos que são trazidos para contagiar ambos os mercados e posteriormente ocorrem as fragilizações para viabilizar a consumação do objetivo e assim dinamizam os mercados e dão volumes.
Continuamos com a percepção de que a Bovespa, ancorada pelos investidores pessoas físicas e sem atrair investidores estrangeiros, tende a “flutuar” no entorno do seu quadro atual, com o dinamismo estimulado por intenso volume de negócios de “day trade”. Não há, na realidade, fundamentos concretos.
No dólar a convicção é que o país não sofrerá nem pressão de oferta e nem de demanda, o que nos leva a sancionar a perspectiva para o semestre de preço no intervalo de R$ 5,00 a R$ 5,50.
Há dados enunciados pelo RTI mais recente que permite concluir que não haverá pressão de demanda, e, por outro lado, o “câmbio alto” no piso mínimo de R$ 5,00 é de interesse do governo dentro da sua política de privatizações e atração aos investidores estrangeiros.
O fato central de preocupações no câmbio é a volatilidade e este fato enseja que o BC foque o “overhedge” que sugere ser a causa. Em março a autoridade monetária redefiniu regras tributárias para a matéria com vigência a partir de 2021 e em 2022, talvez, devesse reconsiderar os prazos e escaloná-lo no tempo, a partir já deste 2º semestre. Algo precisa ser feito pela autoridade, que já revelou ter esta percepção.