Para quem é aficionado por economia como eu, que adora verificar teorias econômicas ocorrendo em real time, poder aplica-las na bolsa de valores é um grande privilégio. Ter todo um background teórico para identificar tendências, canais e possíveis reversões dá uma vantagem significativa contra quem simplesmente quer pegar o bonde andando ou surfar uma onda que já está na metade.
E baseado na situação econômica recente de crise no Brasil, bibliografias para encontrar pontos de entrada nas empresas da bolsa não faltam, onde existem diversos materiais que nos ajudam a entender quais os melhores setores para se estar posicionado em uma possível recuperação e quando entrar neles.
Uma das teorias de cíclicos econômicos mais famosas é a do economista russo Nikolai Kondratiev, responsável pelas ondas (ou ciclos) de Kondratiev, a qual nos diz que existem ciclos econômicos que se completam a cada período entre 40 a 60anos, divididos em fases ascendentes e descendentes.
Dentre estas fases temos as quatro situações básicas que compõem uma parte do ciclo repetido que são:
- 1º) Prosperidade (letra P): produção industrial em máximas históricas, consumo ascendente, desemprego em queda.
- 2º) Recessão/Estagnação (letra R): produção atinge seu máximo produzindo mais que a demanda, pleno emprego, salários não sobem, inflação controlada.
- 3º) Depressão (letra D): produção é reduzida, desemprego aumenta, inflação descontrolada, queda de salários.
- 4º) Ascensão (letra E): retomada da economia, índices param de decrescer, desemprego retoma, juros em queda.
Pegando desde os anos 1800, início do estudo de Kondratiev, o mundo já passou pelas seguintes ondas de Depressão - Ascensão.
É possível ver que as ondas contemplam crises mundiais clássicas conforme destacadas acima e, bem ou mal, elas se enquadram dentro das ondas.
Mas sem apelar para a adivinhação ou qualquer coisa que remeta ao misticismo da previsão, a onda de Kondratiev que foi desenhada mais ou menos até 1990 acertaria pelo menos mais uma dezena de crises, todas ocorridas após esta data, dentre elas: i. Crise do México (94), ii. Crise dos Tigres Asiáticos (97), iii. Crise do Rublo Russo (98), iv. Bolha das PontoCom (2000), v. Crise de 2008 e por ai vai.
Teoria econômica tem lá a sua validade então!
SETORES E A ESTRATÉGIA DE INVESTIR EM AÇÕES
Falando agora em setores, existem aqueles que são prejudicados pela crise e apresentam as piores quedas, mas também aqueles que são os primeiros a se levantar no momento de ascensão, dando oportunidade para os atentos de entrar neles enquanto estão relativamente baratos e surfar toda a onda de recuperação.
Mas antes de entender quais setores são prejudicados e beneficiados, devemos entender como funciona a metodologia da BOVESPA para classificação setorial. Ela divide as empresas listadas em dez grandes setores: Bens Industriais, Consumo Cíclico, Consumo Não-Cíclico, Financeiro, Materiais Básicos, Petróleo e Gás, Saúde, Tecnologia da Informação, Telecomunicações e Utilidade Pública.
(Para entender como é feita essa classificação clique aqui).
Dito isso, vamos aplicar um pouco mais de teoria econômica (dessa vez a de um economista chamado Sam Stovall) e entender quais setores são promissores para a retomada da economia brasileiro.
O gráfico acima demonstra como os setores da bolsa (em vermelho) reagem a cada fase da economia (em verde) e quais deles reagem primeiro. Vale (SA:VALE5) destacar que no mercado de ações, os investidores estão sendo pensando no futuro e, portanto, o sobe e desce da bolsa sempre antecede a recuperação ou a recessão do cenário econômico de fato.
Repare que a linha em vermelho volta a subir antes sequer da linha verde parar de cair. Isso ocorre principalmente porque conforme a crise vai se arrastando, os investidores começam a tentar antever o piso que a economia atingirá e já estimam o seu potencial em uma futura recuperação.
E isso tem se provado verdade! Basta ver o atual momento do IBOVESPA, onde mal saímos da crise e os dados continuam incertos e mistos, no entanto já atingimos o valor histórico em pontos que até então era de 74 mil pontos batidos em 2008 no pré-crise mundial.
Os investidores acreditam na recuperação da economia interna e no positivo cenário mundial e com isso as apostas que as empresas logo mais responderão ao cenário de melhora e com isso aumentarão seus lucros já é precificada no valor das ações.
Pela imagem podemos ver que dois dos setores que se beneficiam logo no início da antecipação da crise são os de Industrial e Basic Industry, ou algo como Bens Industriais e Consumo Cíclico aqui no Brasil. Segundo a classificação da BOVESPA, estes dois setores englobam:
Pensando nisso, o ideal seria entrar com um percentual de capital em cada um dos setores listados de tal forma que, com a retomada da economia, você esteja em alguns dos setores chave que se recuperarão e com isso consiga surfar na alta.
Mas e no caso de um investidor possuir um capital limitado para entrar em diferentes ativos ao mesmo tempo? Nem todos podem comprar algum lote de várias empresas. O que deveria então fazer este investidor?
Se você não pode estar em todos os setores beneficiados pela retomada ao mesmo tempo, escolha papeis das empresas que vão fornecer os recursos para que estas empresas voltem a crescer: as empresas de metais.
(SA:GOAU4) – O retorno dos metais.
As construtoras vão retomar as suas obras? Ótimo, elas precisarão dos metais. O setor de máquinas e equipamentos vão retomar a produção? Perfeito, eles precisarão de metais. E a construção civil e os automóveis estão no radar novamente? Maravilha, mas eles também precisarão de metais.
As empresas de metais são aquelas que vão fornecer vários dos insumos básicos para que as demais empresas possam voltar a produzir, então estar posicionado nelas faz a sua carteira de investimentos suscetível à recuperação das demais companhias, sendo que quanto maior a recuperação delas, maior também a recuperação das empresas de metais.
E para essa análise, nós escolhemos a Gerdau (GOAU4) uma vez que ela atende 4 dos maiores drivers beneficiados por uma eventual recuperação, sendo eles: i. Construção Civil, ii. Indústria, iii. Agropecuário e iv. Automotivo.
Além disso, a empresa é autossuficiente no abastecimento próprio de minério de ferro, onde a companhia possui 3 minas que fornecem um total de 11,5 milhões de toneladas anuais de minério (o restante do que é utilizado pela própria Gerdau (SA:GGBR4) é exportado, gerando ainda receita extra para a companhia, mesmo em momentos de estagnação do mercado interno).
Mas falando agora de números, vamos entender como anda a GOAU4:
Olhando a produção e vendas das empresas de metais como um todo, vemos que os primeiros trimestres do ano não foram positivos se comparados com seus pares de 2016. Isso é compreensível quando olhamos dados como o PIB trimestral (que ainda não apresentou altas consistentes) e dos índices de confiança da indústria e da construção.
Se observarmos os últimos dois anos no quadro abaixo, é visível a recuperação do Índice de Confiança do Empresário Industrial, porém devemos entender que durante a crise em 15/16 o índice retraiu de tal forma que, mesmo com a subida recente, o empresariado continua com o pé atrás (o índice reluta em cruzar a série histórica).
O mesmo ocorre com o Índice de Confiança da Construção. Tamanha sua queda, a recuperação parece ser insuficiente para um sinal de retomada, porém observamos que o ICST já registra três altas consecutivas na sondagem com ganho de 4,1 no ano.
Posto isso, entendemos que existe um grande gap sobre a capacidade total das indústrias que a Gerdau atua, mas também um grande campo ainda a ser recuperado. Levando em conta ainda que o papel tem respondido bem ao seu fundo histórico durante a crise, temos que o valor do papel pode puxar uma forte alta no médio/longo prazo.
Isso se estivermos falando somente do cenário nacional da companhia. No entanto, a empresa possui uma boa diversificação quando levamos em conta a globalização da marca. Dentre os seus principais mercados, temos o Brasil com 33% de participação no total das receitas e a América do Norte com 40%.
Dado que tanto nosso país como os EUA estão em um momento positivo para suas economias, vejo com bons olhos esse mix entre tais mercados.
Hora do gráfico
Se olharmos a Gerdau no período em que ainda não se falava tão fortemente em crise econômica, veremos o papel entre 2012 e 2014 rodando próximo da casa dos R$ 15,00 aos R$ 23,00 onde havia certa acumulação de forças.
Até então, o papel se manteve em um canal lateralizado, com nenhum dos lados (compradores e vendedores) imprimindo sua vontade no ativo. O que ocorreu durante a segunda metade de 2014, no entanto, foi que uma leva de notícias negativas pelo lado da economia e política fizeram com que os vendedores tivessem mais motivos para acreditar numa queda dos números da empresa.
A partir daí o que se viu foi uma forte puxada para baixo no valor dos papéis, sem que este ao menos tivesse algum canal de baixa definido. Vimos a GOAU4 sair do patamar dos R$ 18,00 para pouco mais de R$ 1,00.
Sim amigos, os anos de 2014 e 2015 foram doídos para aqueles que acompanhavam a bolsa e viram seus papéis derreterem dia a pós dia. Tempos difíceis aqueles.
Mas como a bolsa é feita de oportunidades, após uma queda de quase 95%, o lado comprador atuou no papel o qual estabeleceu uma leve recuperação. Observemos o novo canal de alta que a GOAU4 desenhou ao longo de 2016. Assim como na maioria dos papéis, com a retomada dos principais índices da economia, as empresas retomaram alguns projetos e com isso a necessidade de metais retornou, mesmo que em pequena escala.
Do 1ºTri/16 ao 1ºTri/17 o papel apresentou uma alta de 550%, quando atingiu seu topo de R$ 6,72 em Mar/17. Como dissemos, a bolsa é feita de oportunidades e ver um papel subir seus 550% em pouco mais de um ano é “one life shoot”.
Já a partir de 2017, mesmo com a recuperação da economia a GOAU4 entrou em um longo canal de acumulação de forças. Repare que mesmo com alguns repiques próximo do topo dos R$ 6,70 o papel não conseguiu quebrar a resistência da força vendedora nos R$ 6,50.
Com o cenário interno positivo, porém ainda sem nenhum viés de recuperação de fato, dado principalmente o clima instável da política brasileira, acredito que o papel está à espera de um driver que guie o rompimento do seu topo histórico recente.
GOAU4 – O que esperar do futuro?
É quase certo que a economia vai guiar os principais ativos da bolsa brasileira, mas no caso das empresas de metais, o que puxa os ativos para cima são justamente o investimento das demais empresas (construção, infraestrutura, indústria).
No curto prazo, Usiminas (SA:USIM5) e Gerdau, as principais empresas do setor, ficam à mercê de como se dará a recuperação da economia que por hora fica travada até a conclusão de votações de projetos chave como a reforma da previdência, sendo essa a reforma “linha dágua” que separará um próximo governo saudável de um turbulento.
Então a conclusão para a GOAU4 é, entrar no papel? Sim, mas observar as nuances da empresa.
Próximo de Abril/17 o papel formou uma lateralização abaixo da EMA200 (em verde), sendo essa uma forte linha de resistência na análise grafista. Com um fundo de R$ 4,00 testado durante todo o 2ºTri/17, o papel finalmente rompeu a EMA200 formando uma LTA (linha de tendência de alta – em azul).
Pelo lado positivo, observe que a MACD e a Signal, apesar de se cruzarem algumas vezes, permaneceram acima da linha dos 0.000 o que indica força compradora no ativo mantendo o otimismo no papel. Além disso, o IFR tem permanecido entre a faixa dos 50 mil e 70 mil pontos indicando que os vendedores ainda que atuando, não tem conseguido reverter a tendência de alta.
Caso a LTA permaneça com força, a estimativa é que o papel volte primeiramente à casa dos R$ 8,00 onde encontrará sua primeira resistência e, caso consiga romper esse patamar, busque os R$ 10,00.
Conforme apuração do Financial Times para a GOAU4, todas as recomendações positivas, sendo Hold (para quem já tem o papel na carteira segurar nos próximos 12 meses) e de Outperform (desempenho do papel acima do mercado).
Bons investimentos!
Pulicação original: Hora do Gráfico - GOAU4
DISCLAIMER: ISTO É APENAS UM COMENTÁRIO SOBRE ANÁLISE TÉCNICA E NÃO CONSTITUI NENHUMA ESPÉCIE DE ACONSELHAMENTO FINANCEIRO.