- O dólar continua se enfraquecendo contra o iene, diante da expectativa de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) reduza seu aperto monetário
- Por outro lado, a moeda japonesa ganhou vigor antes da próxima reunião do banco central do país, que pode fazer novos ajustes em sua política de controle das taxas dos títulos.
Os dólar se desvalorizou no mercado internacional durante a sessão pouco movimentada de segunda-feira, devido à expectativa dos operadores de que o Banco do Japão (BoJ) realize um novo ajuste em sua política de controle dos rendimentos dos títulos públicos nesta semana.
A fraqueza da divisa americana fez com que o Índice Dólar recuasse até a mínima de sete meses, estendendo as perdas da semana passada, após novos dados mostrarem que os preços ao consumidor recuaram pela primeira vez em mais de dois anos e meio.
A redução da inflação sinaliza que o Federal Reserve pode finalmente desacelerar o ritmo das altas de juros, principais responsáveis pelo grande salto do índice dólar em 2022. De acordo com as estimativas atuais do mercado, há 91% de chances de o Fed aumentar as taxas em apenas 25 pontos-base (pb) em sua reunião de política monetária no próximo mês, enquanto apenas 9% esperam um aumento de 50 pb.
Após dados nos EUA, foco muda para BoJ
O grande destaque no mercado de câmbio a ser acompanhado na semana é o iene, já que muitos operadores especulam que o BoJ pode realizar ajustes em sua política de controle de rendimento dos títulos públicos em sua reunião de 17 e 18 de janeiro.
O mercado de títulos do governo do Japão é um dos maiores do mundo, com mais de 1.000 trilhões de ienes (US$ 7,9 trilhões) em dívidas emitidas. No entanto, tornou-se um dos mercados menos líquidos, devido à política monetária do BoJ classificada como um controle da curva de juros.
Em um esforço para estimular o crédito, o crescimento e a inflação, o banco central japonês fixou as taxas de juros de curto prazo em -0,1% e os rendimentos de 10 anos em torno de zero desde 2016. Durante esse período, reduziu sua tolerância para o movimento das taxas de 10 anos acima ou abaixo de zero em ocasiões, sendo a mais recente no mês passado, quando expandiu sua faixa-alvo de +/- 0,25 ponto percentual para +/- 0,5 ponto percentual.
Como as taxas dos títulos aumentam quando os preços dos papéis caem, a proteção do limite superior da banda forçou o BoJ a comprar uma quantidade substancial de títulos, o que resultou em mais de 50% do mercado.
O dólar atingiu a mínima de 7 meses contra o iene no início da sessão de segunda-feira, antes de se recuperar ligeiramente à tarde. Ray Attrill, diretor-chefe de estratégia de câmbio do Banco Nacional da Austrália, afirmou:
"Acho que o mundo inteiro estará focado na reunião do BoJ, na quarta-feira, e provavelmente a semana nas moedas do G10 será definida pelo que acontecerá com o iene e seus pares".
Attrill acredita que o BoJ não tem o benefício do tempo para avaliar melhor o cenário nem para esperar até que o atual presidente da instituição, Haruhiko Kuroda, conclua seu mandato para alterar sua política monetária. Kuroda deve deixar o cargo em abril.
Os investidores pedem que o BoJ abandone sua política monetária ultrafrouxa, que fez com que as taxas dos títulos de 10 anos do governo japonês rompessem o novo teto do banco central na semana passada.
A política monetária ultrafrouxa do Japão está respaldando as taxas globais e provocou a desvalorização do iene. Se o BoJ abandonar essa política, geraria uma pressão altista sobre os rendimentos dos mercados desenvolvidos e fortaleceria o iene.
Ventos favoráveis no iene e obstáculos no dólar
O valor do dólar foi afetado pela queda das taxas dos títulos dos EUA, na medida em que os investidores esperam que o Federal Reserve reduza o aumento dos juros, graças à queda da inflação.
Essa queda na inflação também aumenta as chances de um “pouso suave” na economia dos EUA, de acordo com Alan Ruskin, direto-chefe global de estratégia de câmbio da Deutsche Securities. O especialista acredita que a recente redução das restrições na cadeia de suprimentos estava exercendo um efeito deflacionário sobre a economia mundial.
Ruskin afirmou o seguinte, em entrevista à Reuters:
"A própria inflação mais baixa incentiva um pouso suave por meio de ganhos salariais reais, permitindo que o Fed faça uma pausa mais imediata em sua política, promovendo o mercado de títulos, com repercussões favoráveis nas condições financeiras."
Um pouso suave também mitiga o risco de cauda das taxas mais altas nos EUA, o que, em última análise, “ajuda o apetite global para o risco”, acrescentou.
Os estrategistas de câmbio do Morgan Stanley) revisaram o alvo para o fim do ano para o dólar, esperando que o índice feche a 98 pontos, contra 104 anteriores.
“O crescimento global está mostrando sinais de força ascensional, diante da menor incerteza macro e inflacionária e da rápida queda na vantagem de carry do dólar".
Lord acredita que o euro tem mais potencial para superar o desempenho do dólar e espera que a libra esterlina e o iene registrem retornos negativos no ano.
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Shane Neagle é responsável pelo The Tokenist. Confira a newsletter gratuita do The Tokenist, Five Minute Finance, para ter uma análise semanal das maiores tendências em finanças e tecnologia.