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Investir: “Não Saber” é Arriscado; “Achar Que Sabe” Pode Ser Ainda Mais Perigoso

Publicado 11.12.2020, 13:13
Atualizado 09.07.2023, 07:32

No meu primeiro artigo publicado aqui no Investing.com há duas semanas, eu recomendei aos investidores a priorização de quatro “componentes primordiais” para enfrentarem o enorme desafio de investirem de forma “racional”, ou seja, consistente com os seus objetivos, perfil e necessidades. Estes componentes foram: conhecimento, autoconhecimento, processo decisório e implementação.

Hoje me aprofundarei no 1º componente: o conhecimento, o qual, conforme demonstrado pela Neurociência e pela Psicologia, é um dos constituintes básicos da inteligência de qualquer indivíduo e também possui correlação com a sua racionalidade.

Na minha Tese de Doutorado desenvolvida no COPPEAD/UFRJ, sob orientação do Prof. Carlos Heitor Campani em parceria com a CVM nas áreas de Economia/Finanças Comportamentais e de Julgamento & Tomada de Decisão, um tipo específico de conhecimento emerge com destaque como decisivo para a tomada de decisão de investidores. Trata-se do conhecimento de finanças (“financial literacy”), cujo efeito já foi fartamente documentado por numerosas pesquisas publicadas e para o qual há instrumentos de mensuração cientificamente eficazes, como o desenvolvido por Lusardi & Mitchell (2017), por exemplo.

O que realmente precisamos saber, mas poucos sabem o bastante, sobre conhecimento de finanças?

  1. Conhecimento é condição necessária, porém não suficiente, para investir de forma adequada. Os demais “componentes primordiais” supracitados (autoconhecimento, processo decisório e implementação) possuem um papel indispensável que  não pode ser “compensado” por um maior nível de conhecimento de finanças. Adicionalmente, há o fato de que a Economia em geral é um ambiente de “baixa validade” (“baixa previsibilidade”, em linguagem não científica), o que torna a relação entre nível de conhecimento e resultados obtidos pelos investidores substancialmente inferior à observada em ambientes de “alta validade”. Um exemplo clássico são as competições de xadrez.

  2. A maioria dos investidores sabe muito menos do que acredita. Este é um fenômeno tão comum e evidenciado – e não apenas no mercado financeiro – que recebeu uma denominação científica específica: efeito Dunning-Kruger. Consiste justamente em superestimar o seu próprio nível de conhecimento,de finanças, inclusive, tanto em termos absolutos quanto em comparação com outros indivíduos com níveis superiores de conhecimento,  o que é ainda mais temerário, levando a decisões frequentemente equivocadas. Isto se relaciona com o viés do excesso de confiança, considerado por alguns pesquisadores respeitados o “pai de todos os vieses”.

  3. A maioria dos investidores sabe muito menos do que necessita. O nível de conhecimento necessário depende do tipo de investimento a ser realizado, mas há estudos internacionais que revelam que a média de proficiência em finanças dos investidores é reduzida. Isto é agravado pela formação deficiente em matemática em muitos países, pela complexidade crescente dos mercados financeiros, pela popularização dos investimentos em renda variável e pelas onipresentes heurísticas da representatividade e da disponibilidade, ou seja, “atalhos mentais” que fazem com que investidores tomem decisões sem possuírem informações suficientes em quantidade e qualidade para tanto.

  4. “Não saber” é arriscado, mas “achar que sabe” pode ser ainda mais perigoso. Hauff (2014) evidenciou que indivíduos com maior nível de conhecimento financeiro assumem mais riscos, o  que foi endossado pela descoberta de Stolper (2017) de que à medida que os investidores absorvem mais conhecimento os seus níveis de confiança também aumentam e o seu uso de orientação financeira tende a ser cada vez mais relativizado. E, ainda mais chocante, revelou que dois terços dos investidores individuais ignoram completamente qualquer orientação financeira. Estes resultados convergem com estudos clássicos realizados por Odean e Barber que mostraram que investidores que transacionam com muita frequência obtêm, em média, ganhos inferiores.

  5. Conhecimento também pode ser obtido via assessoramento financeiro, mas é preciso  ficar atento aos conflitos de interesse. Com origem na crise das hipotecas subprime que atingiu os EUA em 2007, a crise mundial de 2008 escancarou o quão graves podem ser os conflitos de interesse e suscitou um movimento internacional,com reflexos no Brasil, de ampliar e aprimorar a regulamentação e fiscalização nos mercados financeiros em geral. Na minha Tese de Doutorado  demonstrei que ainda persistem no Brasil graves conflitos de interesse entre investidores e instituições financeiras, tema este que ficou em evidência na mídia há alguns meses por conta da troca de acusações públicas entre o maior banco privado e uma das maiores corretoras do país. A saída para o investidor é confrontar as análises e orientações obtidas de fontes independentes entre si e de não criar dependência ou vulnerabilidade por meio do desenvolvimento de um nível de conhecimento pessoal mínimo que seja suficiente para analisar de forma crítica as informações e orientações obtidas.

Anúncio de terceiros. Não é uma oferta ou recomendação do Investing.com. Leia as nossas diretrizes aqui ou remova os anúncios .

“Pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes." (Leonardo da Vinci).

 

* Ronaldo Deccax é D.Sc. em Administração com ênfase em Economia/Finanças Comportamentais, pesquisador e professor convidado no COPPEAD/UFRJ e consultor em Julgamento & Tomada de Decisão, Economia/Finanças Comportamentais, Negociação e Compras/Suprimentos. Ele pode ser contactado através do e-mail ronaldo.deccax@coppead.ufrj.br e no LinkedIn.

Últimos comentários

Tá vendendo o peixe dele
Sobre whge
Achar que sabe e dar conselhos é ainda pior, não?Como diria Luiz Barsi: quantos milhões voce já tem com o que sabe?
interessante. Esse comportamento poderia ser explicado pelo uso indiscriminado do sistema rapido em detrimento do sistema devagar segundo proposto por Kahneman sobre processos de tomada de decisões?
Perfeito. Até em investimentos a humildade deverá prevalecer.
Bacana doutor...à medida que venho ampliando meu conhecimento, sinto vontade de vender todos os meus ativos e começar de novo...embora minha carteira total tenha rentabilidade de 8% em 4 meses que comecei na renda variável...texto muito provocativo...ansioso para ver os demais sobre autoconhecimento, processo decisório e implementação...
Excelente, sensato .
Excelente visão!
Excelente artigo que nos demonstra a necessidade de sermos conservadores e humildes em nossas decisões de investimentos, especialmente nos tempos atuais de alta volatilidade, influenciadores remunerados, aluguel de ativos para influenciar cotações e baixa efetividade dos controles.
ok
Se conhecimento acadêmico fosse garantia de sucesso em renda variável, todo profissional da área financeira seria milionário.
Barsi que o diga, o pai pois a filha para estudar tanto para não perder o que tem na mão. Igual ao Sílvio Santos de 6 só 1 e estudada até o talo para manter o patrimônio, porque o resto só entende de gastar dinheiro.
O que, na sua opinião, determinação um conhecimento bom para um investidor autônomo? Seriam os resultados? Porque para um investidor autônomo é muito fácil cair na "armadilha" de achar que sabe, e mais ainda, não ter conhecimento do que deveria saber. É uma linha bem difícil de ser ultrapassada.
eu quando comecei a trabalhar na bolsa não sabia nada porém procurei estudar e me aperfeiçoar cada vez mais e mesmo assim eu aprendo todos os dias e procuro estudar sempre eu busca de algo melhor
Muito bom !! Quero conhecer os demais topicos Obrigado
Excelente argumento.
aff
Esta formação que não tivemos, nos dificulta demais. Temos que nos refazer e reiniciar, quando possivel!Parabens pelo texto, sucinto, analitico e doutrinante.
gostei muito da sua publicidade, você é the Best.
parabéns! ótimo trabalho.
Nao entendo nada de investimentos mas o texto me levou a pensar ! Parabens !
excelente em se expressar. Ótima linguagem. Amei seu artigo.
Já estou seguindo..texto muito bom.. informativo e bem escrito.. parabéns..
Melhorou muito!!! Isso que é conhecimento de verdade!!! Parabéns Deccax!!!
Pensar que não sabe, pode ser ainda pior!!!!! vou citar um caso real.... vendi um imóvel a um ano atrás, daí peguei 2/3 do valor e apliquei na tal Carteira Universa do tal especialista!!! daí como eu achava que não sabia investir!!! fiquei com o último 1/3 pra investir por conta própria!!! resultado, exatamente um ano depois meu 1/3 dobrou de valor!!! e o do mega especialista, nem sequer voltou a ter o valor inicial!!!!! já sei, vão dizer que foi sorte de quem não sabe investir. kkkk
Cara isso não se faz, vender imóvel pra investir, principalmente se for em renda variável, mas boa sorte ae. Na minha opinião muitos especialistas instigam as pessoas a fazerem investimentos específicos e quando eles já tem uma boa margem de lucro pulam fora sem avisar ninguém e quem ficou alí esperando um milagre acaba no prejuízo.
“Pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes." (Leonardo da Vinci) Parabéns Ronaldo Deccax e um forte abraço
Artigo bem escrito, muito oportuno e pertinente, alto nível. Parabéns !
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