IPCA-15 é a prévia da inflação oficial ao consumidor brasileiro, medida pelo IPCA. O indicador de maio subiu 0,44%, acima do registrado em abril (+0,21%), porém, menos que o esperado (+0,47%, na mediana). Já o IPCA+ é um título público do Tesouro, tido como o “queridinho” dos investidores e “alternativa soberana” de investimento.
Por ser um papel pós-fixado que remunera a inflação mais uma taxa que oscila ao sabor das expectativas econômicas, o IPCA+ está indexado ao IPCA e tem como referência as NTN-B, negociadas no mercado de balcão. Recentemente, a NTNB 2035, usada como referência, chamou a atenção pela rentabilidade acima de 6%.
Trata-se de algo raro. Levantamento feito pela Quantum Finance indica que, em média, nos últimos dez anos, os títulos IPCA+ ofereceram retornos reais (inflação projetada menos a taxa Selic nominal) iguais ou superiores a 6% em menos de 25% das sessões (veja gráfico abaixo).
Portanto, o IPCA+ 6% é, de fato, uma taxa elevada quando se olha o histórico recente. Por isso, gerou repercussão no mercado financeiro e entre as opções nacionais de investimento.
Porém, quando se amplia o horizonte de análise para os últimos 15 anos, em quase 50% das ocasiões, a taxa de retorno das NTN-Bs encontra-se entre 5,5% e 6,5%. É o que mostra levantamento feito pela Avenue Securities.
Em outras palavras, na maior parte do tempo, a taxa observada foi maior que 5,5% e menor que 6,5%. Atualmente, ela está em 6,09%, ou seja, dentro desse intervalo
- William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue
Diante disso, tem-se um contexto no qual as NTN-Bs estão sendo negociadas em níveis elevados, porém, dentro da média histórica dos anos 2000. “Ainda assim, muitos investidores veem o momento atual como diferenciado para aproveitar essas taxas elevadas na cena doméstica”, emenda o estrategista.
1 + 1 = 6
Mas essa situação excepcional pode estar com os dias contados. O próprio Tesouro Nacional está com uma “árdua missão” de tentar reduzir a parcela de títulos pós-fixados nos tradicionais leilões no mercado, ressalta o co-gestor da Warren Rena, Luís Felipe Laudísio.
Segundo ele, a intenção da autarquia é quebrar a dinâmica vista até então. Recentemente, os prêmios incorporados na curva de juros local devem-se, do lado externo, à demora do Federal Reserve em iniciar os cortes na taxa dos Estados Unidos e, no âmbito interno, ao aumento do risco fiscal, entre outros fatores.
Como resultado, o mercado ajustou para cima a expectativa para a Selic. Ao final de 2024, prevê 10%, enquanto manteve em 9% a projeção da taxa básica em 2025 e em 2026. Em contrapartida, os economistas consultados pelo Banco Central para o Boletim Focus preveem inflação acima da meta nos mesmos três anos.
Na teoria, essa conta não fecha. Afinal, juros mais altos servem para controlar a alta dos preços. Aliás, foi isso o que um dos membros do Fed enfatizou nesta segunda-feira (27): será preciso “vários meses” de leituras positivas da inflação para ter início o tão aguardado ciclo de cortes na taxa dos EUA.
Por sua vez, o presidente do BC brasileiro, Roberto Campos Neto, atribuiu a piora da chamada “expectativas de inflação” a ruídos recentes. Para ele, o mercado tentou “politizar” a decisão deste mês do Comitê do BC (Copom) por causa do placar apertado.
Com isso, ele acredita que essas previsões de inflação vão melhorar com o tempo. Para se ter uma ideia, o IPCA-15 acumula no ano alta de 2,12% e, nos últimos 12 meses, de +3,70% - abaixo dos 3,77% observados no período imediatamente anterior. Há, portanto, uma trajetória de desaceleração da alta dos preços ao consumidor.
Traduzindo: com a Selic em dois dígitos, a expectativa de inflação tende a ceder, ficando mais próxima à meta de 3% perseguida pelo BC até 2025 e ajustando essas variáveis para níveis neutros. Isso significa que o prêmio do IPCA+ 2035 não tem como ir muito além de 6% - nem ficar acima disso por mais tempo.
Logo, juro real na estratosfera é um fenômeno visível no mercado doméstico tal qual um cometa.