Pagar a fatura do cartão de crédito, guardar dinheiro, planejar a aposentadoria... Todas as questões financeiras são universais. Todo mundo, em algum momento, vai ter que lidar com elas. Nos últimos anos, no entanto, surgiu com força o foco em educação financeira para mulheres. Muita gente me pergunta: “Por que só para mulheres? É diferente mesmo?”
A resposta é sempre um belo “sim”. As questões são as mesmas, mas o contexto e o desafio são completamente diferentes.
Para começo de conversa, as mulheres começaram a construir a sua relação com o dinheiro há relativamente pouco tempo. Foi só no fim da década de 1960 que elas tiveram o direito de ter seu próprio CPF e, como consequência, sua conta corrente individual sem precisar de autorização do pai ou do marido. Isto aconteceu no mesmo momento em que começou a ascensão da mulher no mercado de trabalho. Ou seja: o direito de ganhar seu próprio dinheiro e a responsabilidade de cuidar dele é algo recente em termos históricos.
Os desafios são enormes, pois existem uma série de desequilíbrios e desigualdades. As mulheres ganham, em média, 28% a menos do que os homens no Brasil, de acordo com o IBGE. Este número sobe para 34% no caso de mulheres com grau superior completo. Quanto maior a escolaridade, maior o abismo salarial.
Outras disparidades são mais difíceis e enxergar, como o fato de que as mulheres falam menos sobre dinheiro e são menos estimuladas a guardar e investir. Foi feita uma análise nos EUA sobre as várias formas como dinheiro é falado para homens e mulheres, e descobriu-se que quando o público é masculino, o foco é turbinar os rendimentos e, quando é feminino, a ideia é economizar nas compras. Desta forma, as desigualdades são mantidas. Como lidar bem com dinheiro, quando as mulheres só o utilizavam para gastar? (Vale lembrar que, historicamente, as mulheres sempre tiveram o papel de executar o orçamento das famílias).
Para completar, existem, inclusive, diferenças nos preços dos produtos e serviços para homens e mulheres – a chamada ‘pink tax’. Calcula-se que, em média, elas gastem 7% a mais do que eles para os mesmos produtos. Essa diferença vai da lâmina de barbear a bicicletas infantis até calças jeans e outras roupas.
Além disso, as mulheres têm menos tempo disponível. Um levantamento do IBGE mostrou que as mulheres gastam, em média, 24 horas por semana com cuidados com o lar e família, enquanto os homens destinam apenas 5 horas.
O resumo da ópera é que as mulheres ganham menos, têm menos tempo, menos educação financeira e menos renda disponível para guardar e investir. Por outro lado, um estudo da OCDE revelou que os públicos que mais têm necessidade de educação financeira são as crianças e as mulheres – além de todas as necessidades específicas, as mulheres têm uma grande vantagem. Elas são multiplicadoras: ao aprenderem a lidar bem com seu dinheiro, elas passam este conhecimento para frente. Sua família, seus amigos e a sua comunidade também são impactados.
Com todo este cenário, fica claro que é essencial falar de dinheiro também apenas com mulheres. É necessário entender o seu contexto, os seus desafios e as suas dificuldades para que elas possam assumir o controle das suas vidas e conquistarem sua real autonomia.
Quando uma mulher aprende a cuidar do seu dinheiro, a vida da sua família inteira é impactada. O caminho para transformar o País passa pela educação financeira das mulheres. Vamos juntos nesta jornada?