Após o começo de ano mostrar forte perspectiva de um pouso suave das economias desenvolvidas junto a uma acelerada reabertura da economia chinesa, a reversão das expectativas da última semana coloca evidente pressão sobre ativos de risco e economias emergentes.
Nos EUA, os dados referentes a janeiro mostraram uma economia ainda extremamente resiliente. Nota-se especificamente a queda da taxa de desemprego para o menor patamar dos últimos 53 anos, enquanto a inflação permanece sustentada, e o alívio das condições financeiras sugere menos pressão baixista na atividade derivada da política monetária.
Ainda que a leitura do PIB do quarto trimestre do ano passado tenha mostrado fraco quadro de absorção interna, a persistência inflacionária, alimentada pelo robusto mercado de trabalho, sugere que de fato não haverá alternativa para o Banco Central dos EUA em sustentar o ciclo de altas da taxa de juros básicos. Consequentemente, o mercado passa não somente a precificar chance de que o ciclo de altas se estenda para o começo do segundo semestre, como também reduz significativamente a chance de cortes dos juros neste ano.
O Fed está em um severo dilema: quanto mais o mercado de trabalho der sinais de resiliência, mais a autoridade monetária terá de elevar os juros e mais intensa será a recessão provocada por aperto monetário, ainda que ela possa ser diferida no tempo. Sob a ótica do Fed, dado que uma recessão é quase condição necessária para desinflacionar a economia, é preferível que essa ocorra mais cedo do que mais tarde.
Na Zona do Euro, a inflação mostrará persistência por essencialmente dois motivos: as negociações salariais tendem a ser mais demoradas. A rigidez associada ao mercado de trabalho sugere também que o repasse inflacionário via salários pode ser mais intenso do que se comparado a situação nos EUA. Outra consideração relevante é que parte da desinflação registrada durante o inverno foi derivada de preços de commodities, notadamente o gás natural, mais amenos do que o antecipado durante o auge da crise desencadeada pela invasão da Rússia à Ucrânia. Adiante, será difícil que o preço destas commodities energéticas permaneçam tão controlados.
A respeito da China, entramos no mês de março com dois questionamentos fundamentais que serão brevemente testados. Ocorrerá, durante o primeiro final de semana do mês, as famosas “duas sessões” que determinam a meta de crescimento para o ano corrente.
Ao mesmo tempo, o fim do hiato de dados (que tradicionalmente ocorre todo ano em torno do feriado do ano novo lunar) mostrará a configuração de crescimento para o ano. Se a composição mostrar mais peso para investimentos, teremos um forte elemento de sustentação de preços de commodities. Por outro lado, crescimento sustentado por serviços poderá levar uma revisão da melhora nas projeções de crescimento de economias emergentes.
Ou seja, março será um mês de definições relevantes no cenário internacional: reuniões do Fed, do Banco Central Europeu e divulgação de dados nos EUA e na China serão a tônica do mês e ajudarão a determinar a expectativa para os próximos dois a três trimestres.