No acumulado do ano, as ações da Novo Nordisk (NYSE:NVO) e da Eli Lilly (NYSE:LLY) registram desempenhos negativos de -26,5% e -6,7%, respectivamente. Nos últimos anos, essas duas farmacêuticas ganharam ainda mais destaque ao explorarem o mercado de obesidade e tratamentos para diabetes.
A taxa global de obesidade segue em trajetória ascendente. Segundo estudo publicado na revista The Lancet em março, 60% dos adultos e 31% das crianças e adolescentes estarão obesos até 2050.
Se os sistemas de saúde não conseguirem responder a esse avanço, o setor farmacêutico tende a se beneficiar. Nos últimos cinco anos, as ações da Eli Lilly subiram 361%, enquanto os papéis da Novo Nordisk avançaram 104%. Diante dos resultados do primeiro trimestre de 2025, qual dessas empresas tende a se destacar?
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Posicionamento de mercado e resultados: Novo Nordisk vs Eli Lilly
Entre janeiro e março de 2025, a dinamarquesa Novo Nordisk registrou crescimento de 18% nas vendas internacionais, impulsionada principalmente pelos segmentos de obesidade e pelo tratamento com GLP-1 (peptídeo-1 semelhante ao glucagon).
A companhia utiliza esse método nos medicamentos Ozempic e Rybelsus (diabetes) e Wegovy (obesidade). Nos últimos três anos, a participação de mercado da empresa em GLP-1 triplicou, alcançando 62%. A fatia da Eli Lilly nesse mercado é de 35%.
Para 2025, a Novo Nordisk projeta aumento de receita entre 13% e 21% em moeda constante, e crescimento do lucro operacional entre 16% e 24%. Ambas as projeções vieram abaixo do esperado, refletindo menor penetração do GLP-1 nos EUA.
No mesmo período, a Eli Lilly apresentou crescimento de 45% na receita, também impulsionada pelos medicamentos para diabetes e obesidade, Mounjaro e Zepbound (tirzepatida), concorrente direto do Wegovy.
As vendas do Mounjaro, voltado ao controle glicêmico, aumentaram 113% na comparação anual, atingindo US$3,84 bilhões. O Zepbound teve alta de 347%, com US$2,3 bilhões em vendas — avanço que evidencia o ganho de participação da empresa frente à Novo Nordisk.
Para o restante de 2025, a Eli Lilly projeta lucro por ação entre US$20,17 e US$21,67, e receita entre US$58 bilhões e US$61 bilhões, afetada por maiores gastos com pesquisa e desenvolvimento em estágio inicial (IPR&D).
Com esses números em mãos, a leitura para os investidores é clara: vale a pena aguardar antes de ampliar posição em NVO, dado que os investimentos em P&D da Eli Lilly parecem estar gerando retornos mais robustos no mercado de obesidade.
Qual empresa entrega maior eficiência na perda de peso?
No balanço do 1T25, a Eli Lilly reportou que usuários do Zepbound apresentaram perda média de peso de 20,2%, frente aos 13,7% observados com o Wegovy da Novo Nordisk. Além disso, a redução média de circunferência abdominal foi de 18,4cm com Zepbound, contra 13cm com Wegovy.
Ambas as farmacêuticas utilizam hormônios intestinais, mas a abordagem da Eli Lilly é dupla, combinando o GLP-1 ao GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose). Assim, o Zepbound atua simultaneamente sobre o apetite e a regulação da glicose.
Já o Wegovy utiliza apenas o GLP-1, o que explicaria sua menor eficácia e a limitação de mercado nos EUA.
Ainda não está claro qual das drogas tem maior incidência de efeitos colaterais. O Zepbound só tem aprovação para adultos, enquanto o Wegovy foi liberado pela FDA a partir dos 12 anos e é o primeiro com indicação formal para redução de risco cardiovascular.
Estudos sugerem que o Zepbound pode reduzir esse risco em até 38%, mas o medicamento ainda aguarda aprovação específica. Já o Wegovy, segundo o estudo SELECT publicado no The New England Journal of Medicine, demonstrou redução de 28% em infartos, 7% em AVCs não fatais e 15% nas mortes por causas cardiovasculares.
É provável que o Zepbound supere o Wegovy nesse quesito no futuro, mas por ora, a vantagem da pioneira é da Novo Nordisk.
Próximos movimentos no pipeline
A Novo Nordisk está avançando com o CagriSema, que combina semaglutida com cagrilintida para tratar obesidade e diabetes tipo 2. No estudo REDEFINE 2, com 1.200 participantes, a nova fórmula promoveu perda média de 15,7% do peso corporal, contra 3,1% no grupo placebo. A empresa pretende submeter o fármaco à aprovação regulatória no primeiro trimestre de 2026.
Mesmo assim, se os resultados de eficácia do Zepbound se confirmarem, ele continuará sendo uma opção superior, especialmente se obtiver a aprovação para redução de risco cardiovascular. Além disso, a Eli Lilly está desenvolvendo o retatrutide, que age sobre três hormônios relacionados ao apetite: GLP-1, GIP e glucagon.
Os dados clínicos do retatrutide devem ser divulgados até o fim de 2025.
Se os resultados forem positivos, a empresa poderá consolidar ainda mais sua posição como principal fornecedora de medicamentos para perda de peso. Outro diferencial está no fato de ser uma farmacêutica americana, com planos de mais que dobrar os investimentos em produção nos EUA desde 2020, totalizando mais de US$50 bilhões.
Considerações finais
A Eli Lilly apresenta um pipeline mais avançado e promissor no tratamento para obesidade, com perspectiva de maior participação de mercado. Além da eficácia dos medicamentos, a empresa se destaca pela capacidade de entrega e escalabilidade de produção.
Apesar da vantagem inicial, a Novo Nordisk enfrentou sérios problemas logísticos no lançamento do Ozempic e do Wegovy, resolvidos apenas em outubro de 2024. A Eli Lilly está em uma posição mais sólida, com a escassez de tirzepatida resolvida desde dezembro do ano passado.
Recentemente, o presidente Trump anunciou redução de 30% a 80% nos preços de medicamentos prescritos, com autorização para o Departamento de Saúde adquirir diretamente dos fabricantes. A medida, aliada à simplificação regulatória, tende a favorecer a Eli Lilly.
Com um pipeline mais diversificado, alinhamento com a política industrial americana e reforma nos preços, a ação da Eli Lilly se mostra mais atraente neste momento.
Segundo o Wall Street Journal, o preço-alvo médio da LLY é de US$991,50, ante a cotação atual de US$752,72, um potencial de valorização de 31,7%.
Já para a NVO, o preço-alvo médio é de US$102,20, contra US$66,82 hoje, upside estimado em 53%. Como a Eli Lilly tem um peso de mercado 2,3 vezes maior, o potencial de retorno tende a ser mais relevante na Novo Nordisk.
Mesmo assim, todos os indicadores apontam para a liderança da Eli Lilly no mercado de obesidade no longo prazo, o que já se reflete em seu P/L de 62,33, muito superior ao múltiplo de 19,79 da Novo Nordisk.
***AVISO: Este artigo é meramente informativo e não constitui qualquer oferta ou recomendação de investimento.